quinta-feira, 1 de maio de 2014


São Francisco

e a Virgem Maria
 
 

Mais uma vez estamos celebrando festivamente o mês dedicado à bem-aventurada Virgem Maria. Enquanto estamos vivenciando as alegrias do Tempo da Páscoa, nosso olhar se volta para a mãe do Ressuscitado para contemplar com ela os mistérios da nossa redenção através da oração do santo Rosário. Por esta razão, queremos, nesta página franciscana, falar um pouco sobre a devoção mariana presente na vida e nos ensinamentos do pai São Francisco.
 
 
 

 
São Francisco contempla a Virgem Maria na sua íntima relação com o mistério da Encarnação, sempre unida ao seu Filho e Redentor: “Onipotente, santíssimo, altíssimo e sumo Deus... por vosso Filho nos criastes, do mesmo modo... o fizeste nascer como verdadeiro Deus e verdadeiro homem da gloriosa sempre Virgem, a beatíssima Santa Maria” (Regra não Bulada 23).
 
 
 
 

Na Carta aos Fiéis, possivelmente tendo em vista a heresia dos cátaros, São Francisco põe em relevo a realidade humana e carnal assumida pelo Verbo eterno de Deus ao se encarnar no seio da Virgem Maria: “Esta Palavra do Pai tão digna, tão santa e gloriosa, o altíssimo Pai a enviou do céu por meio de seu santo anjo Gabriel ao útero da santa e gloriosa Virgem Maria, de cujo útero recebeu a verdadeira carne da nossa humanidade e fragilidade” (Carta aos Fiéis 4).
 
 
 


Tomás de Celano, ao falar da devoção do seráfico pai pela bem-aventurada Virgem, nos oferece a razão deste amor: Francisco “Abraçava a Mãe de Jesus com indizível amor, pelo fato que ela tornou irmão nosso o Senhor da majestade. Cantava-lhe louvores especiais, derramava preces, oferecia afetos tantos e tais que a língua humana não poderia exprimir” (2Celano 198).



 

São Francisco se comovia ao contemplar a pobreza da Virgem Maria e do seu Filho. Celano afirma que num certo dia “Ao sentar-se para o almoço, um irmão lembra-lhe a pobreza da bem-aventurada Virgem e traz à memória a indigência de Cristo, o filho dela. Imediatamente, ele se levanta da mesa, solta soluços dolorosos e, banhado em lágrimas, come o resto do pão sobre a terra nua. Por isso, dizia que esta era uma virtude régia que refulgira de modo eminente no Rei e na Rainha” (2Celano 200,4-6).
 
 
 

 
O santo pai convida-nos não apenas ao louvor e à exaltação da Virgem, mas principalmente a assumir em nossa vida a maternidade da Virgem Maria. Na Carta aos Fiéis ele fala da possibilidade de sermos mães de Jesus: “Somos mães, quando o trazemos em nosso coração e nosso corpo através do amor e da consciência pura e sincera; damo-lo à luz por santa operação que deve brilhar como exemplo para os outros” (2Fi 53).
 
 
 

 
São Francisco nos deixou uma bela e pequenina oração dirigida à Virgem: “Santa Virgem Maria, não há mulher nascida no mundo semelhante a vós. Filha e serva do altíssimo Rei e Pai celestial, mãe de nosso santíssimo Senhor Jesus Cristo, Esposa do Espírito Santo, rogai por nós com São Miguel arcanjo e todas as virtudes do céu e todos os santos, junto a vosso santíssimo e dileto Filho, nosso Senhor e Mestre. Amém” (Antífona do Ofício da Paixão). Nesta oração, o santo exalta a Virgem como a Esposa do Espírito Santo, sendo possivelmente o primeiro a usar esta expressão (cf. Dicionário Franciscano, 2ª edição, Vozes, 1999, pág. 409 e 410).
 
 
 

Por fim não podemos esquecer o amor de São Francisco pela Porciúncula, lugar dedicado a Mãe de Deus, e onde “ele próprio concebeu pelos méritos da Mãe de misericórdia e deu à luz o espírito da verdade evangélica” (Legenda Maior 3,1). Naquele santo lugar ele confiou a sua Ordem aos cuidados da Virgem: “O que mais nos alegra é que ele a constituiu advogada da Ordem e confiou à sua proteção os filhos que haveria de deixar para serem aquecidos e protegidos até ao fim” (2Celano 198,3).

 

 

Paz e Bem

 

Frei Salvio Romero, eremita capuchinho.