segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O SANTÍSSIMO NOME DE JESUS



No dia 03 de janeiro, o calendário franciscano se enriquece com mais uma celebração litúrgica: é a festa do Santíssimo Nome de Jesus. Em 1530, a Ordem dos Frades Menores, depois de um intenso apostolado em favor desta devoção, recebeu autorização pontifícia do papa Clemente VII para introduzi-la em sua liturgia. Somente no século XVIII, precisamente em 1721, o papa Inocêncio XIII estendeu essa festa à Igreja do mundo inteiro.



O que nos diz a Sagrada Escritura?

Disse o anjo à Virgem Maria: “Eis que conceberás em teu seio e darás à luz um filho, e tu o chamarás com o nome de Jesus” (Lc 1,31);

 Disse o anjo ao justo José: “José, filho de Davi, não tenhas medo de acolher Maria como tua esposa, pois o que ela concebeu é obra do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e tu o chamarás com o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo de seus pecados” (Mt 1,20-21);

O apóstolo Pedro, referindo-se a Jesus, proclama diante do Sinédrio: “Não há debaixo do céu, outo Nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos” (At 4,12);

Na conversão de São Paulo, o Senhor Jesus revelou a Ananias qual seria a missão daquele novo apóstolo: “Este homem é meu instrumento escolhido para difundir meu nome entre pagãos, reis e israelitas. Eu lhe mostrarei quanto deve padecer por meu nome” (At 9, 15-16).




Qual a origem da devoção franciscana ao Nome de Jesus?

Essa devoção para com o Nome de Jesus tem suas raízes nos ensinamentos e na vida do nosso pai seráfico São Francisco. Todos os biógrafos antigos ressaltam o amor extraordinário do pobrezinho de Assis para com o bendito Nome do nosso Redentor:



São Boaventura nos informa a respeito de São Francisco: “E quando exprimia ou ouvia o nome de Jesus, repleto interiormente por um certo júbilo, parecia alterar-se todo exteriormente, como se um melífluo sabor lhe transformasse o paladar e um harmonioso som lhe transformasse a audição” (Legenda Maior 10,6).



O Frei Juliano de Espira, escrevendo entre 1232 e 1241 a respeito de São Francisco, nos informa que o santo de Assis  “mostrava tanta reverência pelo nome do Salvador que, sempre e onde quer que o encontrasse de forma indigna, devotamente o recolhia e o colocava em lugar de honra” (Juliano de Espira, Vida de São Francisco 44,9).



Tomás de Celano fala do respeito que São Francisco tinha para com as palavras sagradas: “Comovia-se acima da compreensão dos homens, quando nomeava vosso nome, ó Senhor santo, e, permanecendo todo em júbilo e cheio de castíssima alegria, parecia realmente um homem novo e um homem de outro mundo. Por esta razão, onde quer que encontrasse algum escrito, seja divino seja humano, no caminho, em casa ou no chão, recolhia-o com muita reverência e recolocava-o em lugar sagrado e honesto, temendo que aí estivesse escrito o nome do Senhor ou algo relativo a ele” (1 Celano 82,1-2).



Tomás de Celano também nos informa que o pai Francisco “Sempre trazia Jesus no coração, Jesus na boca, Jesus nos ouvidos, Jesus nos olhos, Jesus nas mãos, Jesus nos demais membros. Quantas vezes, quando se sentava para o almoço, ao ouvir ou nomear ou pensar em Jesus, se esqueceu do alimento corporal e, como se lê sobre um santo: ‘Olhando, não via e, ouvindo, não percebia’. Muitas vezes também, quando ia pelo caminho,     meditando e exaltando Jesus, se esquecia do caminho e convidava todas as criaturas ao louvor de Jesus” (1Celano 115,5-7).



Há também uma referência a esse amor que o santo pai tinha para com o Nome de Jesus na cena do presépio realizado em Greccio: “beijava em famélica meditação as imagens daqueles membros infantis, e a compaixão pelo Menino, derretida em seu coração, fazia-o até mesmo balbuciar palavras de doçura a modo das crianças. E este nome era para ele como o mel e o favo na boca” (2  Celano 199,2-3).



A devoção franciscana ao Santíssimo Nome de Jesus foi implantada e divulgada por São Bernardino de Sena (1380-1444), e pelos seus ilustres discípulos: São João de Capistrano (1386-1456) e São Tiago das Marcas (1394-1476). Esse grande amor ao Nome de Jesus, herdado do pai São Francisco, não ficou restrito à Ordem Seráfica, mas se espalhou por toda a Igreja, graças ao esforço desses três grandes pregadores franciscanos.

No Ofício litúrgico de São Bernardino canta-se assim:

De Jesus o santo Nome
Bernardino anunciou
pelas ruas, pelas praças,
sem cessar ele pregou.


São Bernardino



“É necessário proclamar este Nome para que a sua luz não fique oculta, mas resplandeça” (São Bernardino, Sermão 49).


Através da ação apostólica desses três santos italianos também foi amplamente divulgado entre os cristãos um símbolo muito antigo, conhecido como o Monograma do Nome de Jesus. Este símbolo é constituído das primeiras letras da palavra Jesus escrita em língua grega: “IHS”. Quem já olhou atentamente o Crucifixo de São Damião (aquele ícone que falou para São Francisco no início de sua conversão) deve ter observado que o nome de Jesus aparece escrito com essas três letras. É comum encontrarmos também essas três letras sagradas nos altares, nos sacrários, nos paramentos litúrgicos, etc.




A INVOCAÇÃO DO SANTO NOME DE JESUS


Bem mais antiga do que a devoção franciscana ao Nome de Jesus é a prática da “Invocação” contínua deste Nome. Ela remonta aos tempos da antiguidade cristã.





Em que consiste esta prática?

Consiste na repetição contínua do Santo Nome de Jesus. Esta invocação pode ser feita em silêncio ou voz alta, falando ou cantando. “Pode ser praticada em qualquer lugar e a qualquer momento. Podemos pronunciar o Nome de Jesus nas ruas, no local do nosso trabalho, em nosso quarto, na Igreja etc. Podemos repetir o Nome enquanto andamos. Além do uso livre do Nome, não determinado ou limitado por alguma regra, parece-nos indicado consagrar certos momentos e locais à invocação ‘regular’ do Nome” (A Invocação do Nome de Jesus, autor anônimo, coleção Oração dos Pobres, Paulus, 5ª edição, pág31).
         Não é necessário ficar refletindo sobre o significado do Santo Nome ou sobre outras coisas relacionadas a ele. Basta repeti-lo com atenção amorosa.




Qual a finalidade desse tipo de oração?

# A perenidade da oração: “Vigiai e sempre orai” (Lc 21,36);
# A união permanente com Deus;
# Lembrança contínua de Deus.





Vejamos alguns dos ensinamentos mais antigos sobre a prática da invocação do Nome de Jesus:

Dizia o abade Macário (século IV): “Bem-aventurado aquele que for encontrado perseverante no nome bendito de Nosso Senhor Jesus Cristo, sem cessar e de coração contrito. Porque sem dúvida não existe, em toda a vida prática, obra tão agradável quanto esse alimento bem-aventurado, se o ruminares sempre” (Pequena Filocalia, 4ª ed. Paulus, pág. 33).

 O mesmo autor também escreveu: “Visitei um doente que estava de cama; o ancião recitava, mais que qualquer outra coisa, o nome salutar e bendito de Nosso Senhor Jesus Cristo” (idem, pág.35).



Diádoco de Fótico (séc. V) escreve assim: “Quem quiser purificar o coração, não cesse, portanto, de abrasá-lo pela lembrança de Jesus. Que seja o seu único exercício e seu trabalho ininterrupto” (Pequena Filocalia, 4ª edição, Paulus, pág. 47).





Quem participa da Escola de Meditação (EFRAM) já está familiarizado com essa prática de oração contemplativa. Além daqueles dois momentos diários de recolhimento, o meditante cultiva a lembrança contínua do Nome de Jesus. Essa invocação frequente deixa o nosso coração sempre pronto para a oração e o torna mais sensível às coisas de Deus. Muitas vezes, estando o meditante a fazer outras atividades corriqueiras, vem ao seu coração o Santo Nome como uma brisa suave, trazendo uma paz profunda e uma alegria serena. Portanto, esta é uma prática salutar que está ao alcance de todos e que pode ser um meio muito eficaz de crescimento espiritual.




Deixamos aqui como sugestão de leitura algumas obras maravilhosas da Coleção ‘Oração dos Pobres’ (Editora Paulus):

a)   A Invocação do Nome de Jesus;
b)  Relatos de um Peregrino Russo;
c)   O Peregrino Russo - Três Relatos inéditos
d)  A Pequena Filocalia.



PAX ET BONUM


Frei Salvio Romero, eremita capuchinho.