sábado, 13 de outubro de 2012


O Senhor me deu irmãos

 

 
Quando São Francisco iniciou sua vida de penitente (conversão), não havia ainda em seu coração a intenção de fundar uma Ordem de frades. Ele não teve inicialmente a preocupação de encontrar seguidores. A chegada dos primeiros companheiros foi, de fato, um presente de Deus e uma confirmação daquilo que ele estava buscando. Por isso, quando ele escreveu o seu Testamento, já no final de sua vida, ele se recorda deste momento singular:
 

“Depois que o Senhor me deu irmãos, ninguém me mostrou o que deveria fazer, mas o Altíssimo mesmo me revelou que eu deveria viver segundo a forma do santo Evangelho” (Testamento 14).
 

 

Podemos dizer então que foi com a chegada dos dois primeiros companheiros do seráfico pai, o Frei Bernardo de Quintavalle e o Frei Pedro Cattani, que o movimento franciscano nasceu. Enquanto esteve sozinho, São Francisco não teve total clareza do modo de vida que deveria seguir. Foi na fraternidade que ele recebeu de Deus a “revelação” de sua forma de vida.
 

 

 
 As fontes franciscanas, cada qual a seu modo, relatam para nós como foi a chegada dos primeiros frades. Uma das fontes mais antigas, chamada de Anônimo Perusino, fala de como São Francisco com seus dois companheiros encontraram no Evangelho a forma de vida que Deus tinha reservado para eles:

“Foram, portanto, a uma igreja da mesma cidade e, entrando nela, ajoelhados humildemente em oração, disseram: ‘Senhor Deus, Pai da glória, nós vos rogamos que, por vossa misericórdia, nos mostreis o que o que devemos fazer’. Terminada a oração, disseram ao sacerdote da mesma igreja que aí estava presente: ‘Senhor, mostra-nos o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo’. E, quando o sacerdote abriu o livro, porque eles não sabiam escolher, encontraram logo a passagem onde estava escrito: Se queres ser perfeito, vai e vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus (Mt 19,21). Folheando  de novo, encontraram: Quem quiser vir após mim (Mt 16,24), etc. E folheando novamente, encontraram: Nada leveis pelo caminho (Lc 9,3), etc. Ao ouvirem isto, alegraram-se com regozijo muito grande e disseram: ‘Eis o que desejávamos, eis o que procurávamos’. E disse o bem-aventurado Francisco: Esta será a nossa Regra”. Em seguida, disse aos dois: ‘Ide e, da maneira como ouvistes, realizai o conselho do Senhor”. (Anônimo Perusino 10-11).
 

 

 
São Francisco nem podia imaginar a multidão de irmãos e irmãs que iria segui-lo. Desde o início ele sempre teve a consciência muito clara sobre o valor da vida fraterna. Quando lemos a Regra que ele escreveu para seus frades ou qualquer um outro escrito seu, percebemos de imediato a sua aguçada sensibilidade fraterna. Nenhuma outra Regra para monges ou religiosos está tão enriquecida de amor fraternal, de zelo pelo outro, de cuidados maternais como a de São Francisco de Assis. Segundo grandes estudiosos, o modo como ele entendeu e viveu a fraternidade é o coração de sua espiritualidade. A fraternidade seria o elemento fundamental para a vivência do carisma franciscano, chegando a ser maior mesmo do que a vida “sem nada de próprio”.
 

 

 
Num mundo onde prevalece um individualismo muito forte, onde os laços fraternos se desfazem com muita facilidade, a mensagem do Pobrezinho de Assis se torna cada vez mais necessária e urgente . Certamente aquele que se fez irmão de todos tem muito a nos ensinar.

Paz e Bem

Frei Salvio Romero, eremita capuchinho.