sábado, 19 de abril de 2014


São Francisco

e a Cruz do Senhor

 

 
 
A vida de São Francisco foi marcada por vários encontros decisivos com a Cruz do Senhor. Quando foram escritas as primeiras biografias deste santo, poucos anos após sua morte, os escritores registraram diversos episódios reveladores de todo aquele amor especial que São Francisco tinha pelo mistério da Paixão do Senhor. Neste pequeno artigo vamos ressaltar alguns desses episódios para que também nós, motivados pelo santo de Assis, possamos, nesta quaresma, contemplar no mistério da Cruz o grande amor de Deus por  cada um de nós.
 
 
 
 

 
Dois episódios ocorridos no tempo de sua juventude deixaram nele uma grande devoção pela Cruz do Senhor. O primeiro episódio foi aquele ocorrido antes de sua conversão, quando viajava para guerrear na Apúlia e sonhou com um palácio cheios de armas militares as quais, segundo São Boaventura, estariam todas assinalados pelo sinal da santa Cruz (cf. Legenda Maior 1,3). O outro episódio foi a visão que ele teve diante da cruz na capela de São Damião, quando lhe falou o Crucificado: “Francisco, reconstrói a minha casa que está toda destruída” (cf. 2Celano 10).
 
 
 
 

 
 
O amor de São Francisco pela Cruz do Senhor se revela especialmente naquela simples e bela oração que ele nos deixou em seu Testamento: “Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, aqui e em todas as vossas igrejas que estão no mundo inteiro, e vos bendizemos, porque, pela vossa santa Cruz, remistes o mundo” (Testamento 5). Nos primeiros tempos da Ordem, São Francisco ensinava esta oração juntamente com o pai-nosso para os frades que ainda não conheciam o Ofício Divino, oração litúrgica que os religiosos e os sacerdotes fazem em determinadas horas do dia e da noite (cf. 1Celano 45). Nesta mesma obra, Celano afirma que, quando o santo pai com seus frades entravam nas igrejas, ou quando apenas as viam de longe, recitavam todos juntos esta mesma oração. E Celano acrescenta: “Faziam o mesmo onde quer que vissem uma cruz ou um sinal-da-cruz, seja no chão seja na parede seja nas árvores seja na sebe” (1Celano 45,7).
 
 
 
 
 
 
 
Quem não se comove ao ler aquele episódio tão simples, mas que revela a profunda devoção de São Francisco para com a Paixão do Senhor? “Poucos anos depois de sua conversão, ao caminhar certo dia sozinho por um caminho não muito longe da igreja de Santa Maria da Porciúncula, ia chorando em alta voz e lamentando. E ao caminhar deste modo, encontrou-o um homem espiritual (...). Movido por piedade para com ele, interrogou-o, dizendo: ‘Que tens, irmão?’ Pois julgava que tivesse a dor de uma enfermidade. E ele respondeu: Assim eu deveria ir chorando e lamentando sem vergonha por todo o mundo a Paixão do meu Senhor’. E esse homem começou a chorar e derramar muitas lágrimas juntamente com ele” (Compilação de Assis 78).
 
 
 
 

 
 
E quem não se lembra da sua oração no Monte Alverne antes de receber milagrosamente no seu corpo as cinco chagas do Crucificado? “Ó Senhor meu Jesus Cristo, duas graças te peço que me faças antes que eu morra: a primeira é que em vida eu sinta na alma e no corpo, quanto for possível, aquelas dores que tu, doce Jesus, suportaste na hora da tua acerbíssima paixão; a segunda é que eu sinta no meu coração, quanto for possível, aquele excessivo amor do qual tu, Filho de Deus, estavas inflamado para voluntariamente suportar uma tal paixão por nós pecadores” (III Consideração dos Sagrados Estigmas).
 
 
 
 

 
Tomás de Celano registra numa de suas obras uma visão miraculosa que um dos primeiros frades teve a respeito do santo pai: “Desde o primeiro instante em que começara a servir sob o crucificado, diversos mistérios da cruz resplandeceram em torno dele (...). Frei Silvestre, um de seus primeiros frades, homem de todo consumado pela disciplina, viu sair da boca de Francisco uma cruz dourada que abrangia maravilhosamente, na extensão de seus braços, todo o universo (3Celano 2-3).
 
 
 
 

Finalmente, o amor de São Francisco pelo Senhor crucificado e pela sua santa Cruz teve seu momento mais forte quando, retirado no Monte Alverne, dois anos antes de sua morte, teve a visão do serafim crucificado: “Subitamente, em suas mãos e em seus pés, começaram a aparecer os sinais dos cravos, (...) Também o lado direito parecia atravessado por uma lança, marcado por uma cicatriz vermelha” (3Celano 4).  Assim, o amante da Cruz, recebendo no seu corpo as chagas do Crucificado, tornou-se semelhante Àquele a quem tanto amara.
 
 

Paz e Bem

 

Frei Salvio Romero, eremita capuchinho.


2 comentários:

  1. Que Deus por intercessão de São Francisco nos ilumine e nos faça compreender tão grande mistério. E nos faça amar ainda mais ao Senhor Jesus.

    Paz e bem!

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