quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014


São Francisco

e o bispo de Assis

 


 

Um dos personagens que aparecem no relato da conversão do jovem Francisco de Assis é o bispo de Assis, conhecido como Guido II. Este nome geralmente é citado de forma tão breve que não nos damos conta de sua importância. Neste pequeno artigo, tanto quanto nos seja possível, queremos oferecer ao leitor um olhar mais detalhado sobre a relação de Francisco com o bispo de sua cidade.  
 
 
 

Nas biografias do santo, o bispo Guido surge no momento crucial do conflito entre o jovem Francisco e seu pai Pedro de Bernardone. Ambos se apresentam diante do bispo para tratar sobre o dinheiro que o pai reivindicava de seu filho. Francisco, desnudando-se diante de todos, devolve tudo o que possuía a seu pai, rompendo definitivamente com ele. Tomás de Celano, descrevendo esta cena, diz a respeito do bispo: “E o bispo, percebendo a coragem e admirando muito o fervor e firmeza dele, levantou-se imediatamente e, acolhendo-o entre seus braços, cobriu-o com o manto com que estava vestido. Compreendeu claramente que era um desígnio divino e reconheceu que as atitudes do homem de Deus que ele vira pessoalmente continha um mistério. Por esta razão, tornou-se em seguida auxílio para ele e, animando-o e confortando-o, abraçou-o com entranhas da caridade” (1Celano 15,3-5).
 
 
 
 

         Quando Francisco e seus primeiros frades foram a Roma para pedir aprovação pontifícia da forma de vida abraçada por eles, encontraram-se com o bispo Guido: “Quando chegaram a Roma e encontraram aí o bispo da cidade de Assis, foram recebidos por ele com imensa alegria, pois venerava o bem-aventurado Francisco e todos os irmãos com especial afeto” (LTC 47,1).
 

O bispo Guido é descrito pelas fontes como aquele que apoiava e aconselhava Francisco e seus companheiros: “E assim eles padeciam penúria extrema. Seus parentes e consanguíneos também os perseguiam; e outros daquela cidade, pequenos e grandes, homens e mulheres, desprezavam-nos e zombavam deles como de insensatos e loucos, exceção feita somente ao bispo da cidade, a quem o bem-aventurado Francisco se dirigia frequentemente para pedir conselho” (AP 17,5). A Legenda dos Três Companheiros diz que Francisco procurava o bispo para pedir-lhe conselhos: “... o bispo da cidade de Assis, a quem o homem de Deus se dirigia frequentemente para pedir conselho” (LTC 35 5).
 
 

O Frei Tomás de Celano também fala da admiração que o bispo Guido nutria pelo santo: “honrava São Francisco e todos os irmãos em tudo e os venerava com especial devoção. (...) Alegrava-se muito por ter tão grandes homens em sua diocese” (1Celano 32,4.6).
 

Parece que não era só São Francisco que procurava o bispo, mas este também o procurava como podemos constatar numa das citações de Celano: “Estando São Francisco a rezar no eremitério da Porciúncula, aconteceu que o bispo de Assis veio visitá-lo familiarmente, como estava acostumado” (2Celano 100,1).
 
 
 
 

 
Na Compilação de Assis, quando São Francisco está falando sobre o respeito e obediência que os frades deveriam ter para com todos os bispos, ele se recorda do bispo de Assis: “Desde o início de minha conversão, quando me separei do mundo e do meu pai carnal, o Senhor pôs sua palavra na boca do bispo de Assis para que me aconselhasse bem no serviço de Cristo e me confortasse” (CA 58,14).
 

Quando São Francisco morreu, o bispo Guido, que estava em peregrinação, teve uma visão sobre o fato ocorrido em Assis. Celano nos conta assim: “Apareceu-lhe por meio de uma visão o bem-aventurado pai Francisco, na noite de seu trânsito, e disse-lhe: ‘Pai, eis que, estou deixando este mundo, vou para Cristo’. Levantando-se de manhã, o bispo narrou aos companheiros o que viu e, tendo chamado o notário, anotou o dia e a hora do trânsito. E, ficando muito triste por causa disto, banhado em lágrimas, lamentava ter perdido um pai especial” (2Celano 220,2-4).
 
 
 

Tendo diante de nossos olhos essas informações, não podemos deixar de, pelo menos, admirar esta figura paternal que esteve próximo a São Francisco. Considerando o que foi exposto até aqui, acho que podemos afirmar que houve entre ambos uma relação de afeto e reverência que perdurou até à morte de São Francisco.
 
 
 
        Paz e Bem
 
 
 
Frei Salvio Romero, eremita capuchinho.

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