Francisco, reconstrói a minha casa.
Nos
últimos meses de 1205 ou, no mais tardar, no início do ano de 1206, o jovem
Francisco de Assis teve uma profunda e singular experiência de Deus, que o
atraía para si através de um longo processo de conversão. Depois de desistir da
guerra na Apúlia (sul da Itália) e voltar para a casa de seus pais, rezando diante
do Crucificado da pequenina ermida de São Damião, Francisco ouviu uma voz que
lhe dizia: “Reconstrói a minha casa”.
São Damião, lugar muito especial para
a história franciscana, cuja construção remonta provavelmente aos dois últimos
séculos do primeiro milênio, estava localizada próxima à cidade de Assis, não
muito distante de seus muros. Foi dedicada aos mártires Cosme e Damião, porém
em todos os documentos antigos só aparece o nome de São Damião.
No tempo da juventude de São
Francisco a ermida de São Damião, propriedade do bispado de Assis, estava quase
abandonada e precisando de reparos. Este estado lamentável, no qual se
encontrava a pequena igreja, deve ter despertado no jovem Francisco um
sentimento de compaixão por aquele santo lugar, onde escutara a voz divina que
lhe falava ao coração.
Havia naquela ermida um grande e
belo ícone do Crucificado, pintado por um artista anônimo, provavelmente da própria
Itália, que media 1,90 metro de altura por 1,20 metro de largura. O Crucificado
foi pintado,não como o homem das dores e do sofrimento, mas como Aquele que está vivo e glorioso, mostrando a sua vitória sobre a morte.
Seus olhos expressivos e bem abertos contemplam com doçura o fiel que deles se
aproxima. Certamente esta figura deve ter tocado o coração do jovem Francisco
que, naquele momento, passava por uma profunda e radical transformação. Ainda
hoje os peregrinos podem ver bem de perto este ícone (original), conservado na
Basílica de Santa Clara, em Assis.
Vejamos
agora o que nos dizem os antigos biógrafos de São Francisco a respeito da sua
experiência com o Crucificado de São Damião:
Tomás de Celano não registrou este
episódio quando elaborou a primeira biografia do santo pai Francisco alguns
anos após a sua morte. Na sua segunda biografia ele nos diz: “Num certo dia,
anda perto da igreja de São Damião que estava quase em ruínas e abandonada por
todos... Ao entrar nela para rezar, prosternando-se suplicante e devoto diante
do Crucificado... sente-se diferente do que entrara. Imediatamente, a imagem do
Cristo crucificado, movendo os lábios da pintura... fala-lhe, enquanto ele
estava assim comovido. Chamando-o, pois, pelo nome, diz: ‘Francisco, vai e
restaura a minha casa que, como vês, está toda destruída’. Francisco, a tremer,
fica não pouco estupefato... prepara-se para obedecer, entrega-se totalmente ao
mandato” (2Celano 10).
A Legenda dos Três Companheiros
descreve o episódio assim: “Estando ele a andar nas proximidades da igreja de
São Damião, foi-lhe dito em espírito que entrasse na mesma para a oração.
Entrou nela e começou a rezar com fervor diante de uma imagem do Crucificado
que piedosa e benignamente lhe falou, dizendo: ‘Francisco, não vês que minha
casa está destruída? Vai, portanto, e restaura-a para mim’. Tremendo e
admirando-se, ele diz: Fá-lo-ei de boa vontade, Senhor’. Ele entendeu que lhe
fora dito daquela igreja que, por causa da extrema antiguidade, ameaçava uma
ruína próxima” (LTC 13, 6-9).
São
Boaventura, por sua vez, relata assim este acontecimento: “Num certo dia,
saindo a meditar no campo, ao andar perto da igreja de São Damião, que devido à
excessiva velhice ameaçava ruir, e como... tivesse entrado nela para rezar,
prostrado diante da imagem do Crucificado, enquanto rezava, ... Ouviu com seus
ouvidos corporais uma voz vinda da própria cruz que dizia por três vezes:
‘Francisco, vai e restaura minha casa que, como vês, está toda destruída!’.
Francisco, a tremer, como estivesse sozinho na igreja, ... fica fora de si,
entrando em êxtase. Voltando finalmente a si, prepara-se para obedecer” (Legenda Maior 2,1).
Esta foi a missão que Deus confiou
ao nosso pai Francisco: “Reconstrói a minha casa”. Apesar de começar
imediatamente a restaurar velhas igrejas de Assis, mais tarde ele chegou a
compreender este mandato de forma muito mais profunda, como nos assegura São
Boaventura: O jovem Francisco “Recolhe todas as forças ao mandato de restaurar
a igreja material, embora a principal intenção da palavra se referisse àquela
Igreja que Cristo adquiriu com seu sangue, como o Espírito Santo o instruiu e
ele depois revelou aos irmãos” (Legenda
Maior 2,1 v.5).
Paz
e Bem
Frei Salvio Romero, eremita capuchinho.
Frei Salvio,
ResponderExcluirFaço minhas as palavras do Papa Francisco: Deus é surpreendente. E pensar que Deus me concedeu a graça de ver o Crucifixo que falou para São Francisco... Parece um sonho.
Paz e bem!
Socorro Melo