quarta-feira, 11 de setembro de 2013


Ambições do jovem Francisco









 
Entre 1202 e 1203 o jovem Francisco passou pela dolorosa experiência do cárcere na cidade de Perúgia. Saindo de lá gravemente enfermo, voltou para a casa de seus pais onde conseguiu se restabelecer lentamente. A Legenda dos Três Companheiros afirma que: “Terminado o ano, e restabelecida a paz entre as mencionadas cidades, Francisco voltou a Assis com seus companheiros de prisão” (LTC 4,6).
 

Segundo um grande conhecedor deste assunto, “Francisco voltou a Assis, à sua vida costumeira, às suas ambições adormecidas, à sua generosidade” (Raoul Manselli, S. Francisco, Vozes, 1997, pág. 53). Entre essas ambições encontrava-se a de ser condecorado com o título de “Cavaleiro”, honraria geralmente reservada à nobreza. Ainda segundo o mesmo autor citado acima, esse desejo de Francisco, relatado pelos biógrafos do santo, não é desprovido de um fundamento histórico: “O rico comerciante, que aspira a tornar-se nobre, aparece frequentemente na vida italiana destes séculos e destes anos” (idem, pág. 54).
 
 
 
 

 
A Legenda dos Três Companheiros nos conta como o jovem Francisco teve oportunidade de realizar seu grande sonho: “Um certo nobre da cidade de Assis se prepara com armas militares para ir à Apúlia, afim de aumentar as conquistas em dinheiro e em honra. Tendo ouvido isto, Francisco anseia por ir com ele e, para ser feito cavaleiro por um certo conde de nome Gentil, prepara como pode roupas preciosas, sendo mais largamente pródigo do que seu concidadão, embora mais pobre em riquezas” (LTC 5,1-2).
 

Estamos por volta do ano de 1205, e Francisco conta agora com 23 anos. Enquanto ele aguardava o início da viagem, ocorreu algo significativo: “Quando à noite dormia em seu leito, apareceu-lhe alguém que, chamando-o pelo nome, o conduziu a um palácio de indizível e magnífica beleza, cheio de armas militares e também de resplendentes escudos assinalados por uma cruz que pendiam em todas em todas as paredes ao seu redor” (Anônimo Perusino 5,2).
 
 
 
 

Francisco ficou admirado com a beleza do palácio e das armas. Perguntando de quem era tudo aquilo, veio-lhe a resposta: “Todas estas coisas, juntamente com o palácio, são tuas e dos teus cavaleiros” (AP 5,3). Quando ele acordou, entendeu que aquele sonho era uma confirmação de seus planos, e que poderia de fato chegar a ser um grande cavaleiro. Por isso, “tendo-se tornado mais alegre do que de costume, era admirado por todos. Aos que lhe perguntavam sobre a causa de onde provinha esta nova alegria respondia: ‘Sei que hei de ser um grande príncipe’” (AP 5,7).
 
 

 
 
 
Chegou finalmente o dia da partida e lá se foi o jovem em direção à Apúlia para conquistar seu sonho de ser cavaleiro: “Quando chegou a Espoleto, preocupado com sua viagem, e à noite se preparava para dormir, meio dormindo, ouviu uma voz que o interrogava para onde queria ir. Ele lhe revelou, por ordem, todo o seu propósito. De novo, a voz lhe disse: ‘Quem pode ser-te mais útil, O Senhor ou o servo?’ Ele respondeu: ‘O Senhor’. ‘Por que então deixas o Senhor pelo servo e o Príncipe pelo vassalo?’ Francisco lhe diz: ‘Que quereis que eu faça, Senhor?’ Diz-lhe: ‘Volta para a tua terra para fazer o que o Senhor te há de revelar” (AP 6,2-7).
 

Assim que amanheceu, ele voltou para Assis “alegre e exultando muitíssimo, esperando a vontade do Senhor. (...) Transformado já na mente, recusa-se a ir à Apúlia e deseja conformar-se à vontade divina” (LTC 6,12-13). Segundo o autor do Anônimo Perusino, “tomando o caminho, quando chegou a Foligno, vendeu o cavalo em que estava montado e as vestes com as quais se ornara para ir à Apúlia, vestindo-se de roupas mais baratas” (AP 7,2).
 
 
 
 
 

Retornando a sua cidade, é possível que Francisco tenha enfrentado um sério conflito com sua família por causa da sua desistência, tendo em vista os altos investimentos na preparação para a guerra. Os biógrafos não falam sobre esse possível conflito, mas podemos certamente supô-lo, tendo em vista o temperamento e as ambições de Pedro Bernardone, pai de Francisco.

 



Paz e Bem

 
 
 

Frei Salvio Romero, eremita capuchinho.

 

 

2 comentários:

  1. Fico imaginando a emoção deste chamado. Como deve ser bom falar diretamente com Deus! Todas as ambições caem por terra.
    Senhor, que quereis que eu faça? Uma entrega confiante.
    Que Deus nos ajude a estar prontos para a nossa missão.
    Lindo texto! Paz e Bem!
    Socorro Melo

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  2. "Não há poder maior do que o poder da Santissima Trindade, e é neste poder que nos revestimos, e nome do Pai, do Filho e do Espirito Santo. Amém.". Aquele que houve a palavra do Senhor, por mais difícil que seja, jamais jamais perecerá. Eu creio no Deus do Imposssivel, o Deus do além através de uma FÉ inabalável que nos leva ao máximo do limite na sua insondável misericórdia. Amém !

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