terça-feira, 8 de outubro de 2013

Francisco
 
antes de sua conversão
 
 
 
Como era o jovem Francisco antes de sua conversão? Quais os principais traços de sua personalidade? Quais eram suas virtudes e seus defeitos? Para responder a essas perguntas, vamos recorrer às obras dos biógrafos mais antigos do santo.
 
 
 
 
 
 
Talvez a consideração mais severa sobre juventude de Francisco seja aquela da primeira biografia do santo, escrita pelo frei Tomás de Celano, provavelmente entre 1228 e 1230: "Causava admiração a todos e esforçava-se por ultrapassar os outros no fausto da vanglória, nos jogos, nas extravagâncias, nas palavras jocosas e frívolas, nas canções, nas vestes macias e amplas: isto porque era muito rico, não avarento, mas pródigo, não acumulador de dinheiro, mas dilapidador de bens, negociante cauteloso, mas também esbanjador muito frívolo; no entanto era homem que agia muito humanamente, habilidoso e muito afável, embora para a própria insensatez" (1Celano 1,3-4).
 
 
O jovem de Assis é apresentado como uma pessoa que naturalmente era otimista, alegre e de muito bom humor. É o que podemos concluir quando lemos, por exemplo, o relato de sua prisão em Perúgia: "Os companheiros de prisão são absorvidos pela tristeza, lamentando miseravelmente o evento de seu aprisionamento; Francisco exulta no Senhor, ri das cadeias e despreza-as. Os que lamentam repreendem a alegria nas cadeias, consideram-no como insano e demente" (2 Celano 4,3-4).
 
 
 
 
 
O Frei Juliano de Espira, que escreveu uma biografia do santo provavelmente entre os anos de 1232 e 1239, nos diz a respeito da infância e juventude de Francisco: "Indecentemente criado desde a infância nas vaidades do mundo, tornou-se mais insolente que seus próprios criadores. Para que falar mais? Buscava incessantemente a glória e a paupérrima felicidade deste mundo; e, tentando avantajar-se nisso a todos, mostrava abertamente com jogos e brincadeiras, com gestos e hábitos, com palavras vãs e canções, a superficialidade do seu coração insatisfeito (...) Por causa da facilidade com que esbanjava, era considerado afável e humano e arrastava após si uma iníqua cauda de amigos que o seguiam como cabeça e guia pelo caminho da ruína (...). Assim, preso entre as filas de seus cúmplices, andou pela estrada da perdição até quase a idade de vinte e cinco anos" (Juliano de Espira 1,2-6).
 
 
Por outro lado, São Boaventura, ao escrever a Legenda Maior em 1262, procurou mostrar mais as virtudes do jovem Francisco do que os seus defeitos: "A suave mansidão com a elegância dos costumes, a paciência e a amabilidade acima da medida humana, a generosa liberalidade acima da disponibilidade dos bens, virtudes com as quais o adolescente era visto crescer como com indícios certos de boa índole" (Legenda Maior 1,1).
 
 
 
 
 
 
A Legenda dos Três Companheiros (obra do século XIII ou no máximo dos inícios do século XIV) é uma das biografias que mais nos oferecem informações sobre a juventude do santo de Assis. Esta Legenda afirma bem claro que Francisco "exerceu o ofício do pai, isto é, o comércio, mas de maneira muito diferente, pois era mais alegre e liberal do que ele" (LTC 2,2-3).
 
 
Ele gostava muito das diversões, dos amigos e das festas: "Aficionado aos divertimentos e aos cânticos, percorrendo a cidade de Assis de dia e de noite em companhia dos eram iguais a ele, muito pródigo em gastar, a ponto de dissipar, em banquetes e outras coisas, tudo o que podia ter e lucrar" (LTC 2,3).
 
 
 
 
 
 
Ainda segundo a Legenda dos Três Companheiros, os pais de Francisco chegavam a se surpreender com as atitudes extravagantes do filho: "Muitas vezes era repreendido pelos pais que lhe diziam que ele fazia tão grandes despesas consigo mesmo e com os outros que não parecia filho deles, mas de algum grande príncipe" (LTC 2,4).
 
 
Outro detalhe curioso, descrito nesta mesma legenda, revela para nós um pouco mais sobre o comportamento do jovem Francisco: "Também se excedia de múltiplas maneiras nas vestes, fazendo roupas mais caras do que lhe convinha ter. E também era tão frívolo na excentricidade que, de vez em quando, na mesma veste mandava costurar um pano muito caro a um pano extremamente barato" (LTC 2,7-8).
 
 
 
 
 
 
 
Por fim, a Legenda dos Três Companheiros nos oferece ainda uma última informação sobre o nosso jovem, afirmando que ele era "naturalmente cortês nos costumes e nas palavras, não dizendo a ninguém, de acordo com o propósito de seu coração, palavra injuriosa ou obscena; pelo contrário, como era jovem brincalhão e alegre, propôs jamais responder aos que lhe dissessem coisas vergonhosas (LTC 3,1).
 

Paz e Bem

 
 
Frei Salvio Romero, eremita capuchinho.
.

Um comentário:

  1. Que interessante! Tornou-se o oposto, literalmente, de tudo que era.

    Paz e Bem
    Socorro Melo

    ResponderExcluir