Os
pais de São Francisco
Este monumento, representando os pais de São Francisco, foi erguido na frente da igreja construída sobre o possível local da casa paterna do santo. |
As Fontes Franciscanas nos oferecem
pouquíssimas informações sobre os pais de São Francisco. Os principais
biógrafos, como Tomás de Celano e São Boaventura, após relatarem um pouco sobre
a juventude de São Francisco e dos primeiros tempos de sua vocação e missão,
nada mais falam sobre a sua família. Mesmo assim, é possível trazer à luz
alguns dados importantes com o intuito de compreendermos melhor as origens do
nosso pai seráfico.
Pedro
Bernardone é o nome do pai de São Francisco. Este nome aparece nas biografias
do santo como o opositor ferrenho das decisões de seu filho. Ele fez de tudo
para que o seu primogênito não se desviasse do caminho traçado por ele.
Provavelmente, Pedro Bernardone via em Francisco um sucessor que ocuparia em
breve o seu lugar à frente dos negócios da família.
Tomás
de Celano, São Boaventura e outros antigos biógrafos não mencionam o nome da
mãe de São Francisco. O nome de Joana ou de Senhora Pica só são registrados nas
biografias mais tardias, assim como a sua suposta origem francesa. Por outro
lado, ela é descrita por todos como aquela que teve sensibilidade para
compreender a vocação de seu filho, libertando-o da prisão doméstica imposta
pelo pai.
Segundo
o autor da Legenda dos Três Companheiros os pais de Francisco o amavam
intensamente, e por esta mesma razão toleravam as atitudes extravagantes do
filho quando ainda vivia na casa paterna: “Muitas vezes era repreendido pelos
pais que lhe diziam que ele fazia tão grandes despesas consigo mesmo e com os
outros que não parecia filho deles, mas de algum grande príncipe. Mas, porque
seus pais eram ricos e o amavam com extrema ternura, toleravam-no em tais
coisas, não querendo perturbá-lo” (LTC 2,4-5).
Pedro
Bernardone era um rico comerciante de tecidos de luxo. Ele possuía, inclusive,
uma loja de tecidos importados na qual o jovem Francisco deve ter trabalhado. Isso
significa que ele pertencia ao nível mais elevado da classe mercantil de Assis.
Documentos do século XIII comprovam que ele possuía também muitas casas na
cidade e que seus descendestes continuaram a gozar da riqueza herdada do velho
patriarca da família. O pai viajava com frequência à França para comprar
tecidos finos os quais eram revendidos por preços compensadores. Ele era não só
possuidor de muitos bens, mas um amante apaixonado pelo dinheiro e por toda a
sua riqueza.
Assis, no tempo de São Francisco,
passava por um processo de emancipação política diante do poder centralizador
dos senhores nobres. Essa reviravolta social era promovida pelos burgueses
(comerciantes e artesãos) que reivindicavam naquele momento uma participação
efetiva e plena nas decisões político-econômicas da cidade. O pai de São
Francisco, sendo ele um rico comerciante, juntamente com seus pares devia ter
seus interesses a defender neste processo político-social típico de sua época. As
cidades que se reorganizavam a partir dos interesses dos burgueses (denominadas
de “Comunas”) estabeleciam um modo mais democrático de exercer o poder
político.
Nas
comunas italianas os ricos comerciantes ostentavam um padrão de vida igual ou
superior ao da nobreza. Não é de estranhar que Francisco cultivasse sonhos de
se tornar um cavaleiro, honraria típica de quem pertencia à nobreza.
Todo
comerciante do nível de Pedro Bernardone devia saber pelo menos ler, escrever,
fazer contas e utilizar o latim num nível elementar. Com muita probabilidade,
esta deve ter sido a educação formal que Francisco, quando criança ou
adolescente, recebeu durante seus estudos na igreja de São Jorge. De fato, muitos
estudiosos, analisando alguns escritos do santo, afirmam que o grau de
instrução de São Francisco era aquele que se esperava de um comerciante de sua
categoria.
Antiga fortaleza construída na parte mais alta de Assis. |
Outro fato curioso é que as
biografias concordam em atribuir a Francisco o uso da língua francesa
principalmente em momentos de entusiasmo e fervor. Este conhecimento do francês
por parte de Francisco deve-se provavelmente ao pai que, tendo em vista os
negócios com a França, transmitiu ao filho o conhecimento que tinha desta
língua.
(Para aprofundamento deste assunto: Raoul Manselli,
São Francisco, Vozes e FFB, 1997, Petrópolis).
Paz e bem!
ResponderExcluir.
Salvio Romero escreveu:
"Tomás de Celano, São Boaventura e outros antigos biógrafos não mencionam o nome da mãe de São Francisco. O nome de Joana ou de Senhora Pica só são registrados nas biografias mais tardias, assim como a sua suposta origem francesa. Por outro lado, ela é descrita por todos como aquela que teve sensibilidade para compreender a vocação de seu filho, libertando-o da prisão doméstica imposta pelo pai."
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Mais ou menos todos descrevem como a que teve sensibilidade, Tomás de Celano escreveu:
"Vivia na cidade de Assis, na região do vale de Espoleto, um homem chamado Francisco. Desde os primeiros anos foi criado pelos pais com arrogância, ao sabor das vaidades do mundo. Imitou-lhes por muito tempo a via mesquinha e os costumes e tornou-se ainda mais arrogante e vaidoso." (1Cel 1, 1)
"Nesses tristes princípios foi educado desde a infância o homem que hoje veneramos como santo, porque de fato é santo. Neles perdeu e consumiu miseravelmente o seu tempo quase até os vinte e cinco anos." (1Cel 2, 1)
É certo que na Vida Segunda Celano muda o tom.
Os estudiosos do franciscanismo não concordam com a visão bastante negativa de I Celano sobre a educação de Francisco por seus pais. Por este motivo, preferimos seguir mais de perto a visão equilibrada que nos é oferecida pela Legenda dos Três Companheiros. Paz e Bem. Frei Salvio.
ExcluirÉ muito interessante essa questão sobre a educação de Francisco.
ResponderExcluirGrande abraço
Socorro Melo