quinta-feira, 6 de junho de 2013


Carta para

Santo Antonio



 

Neste mês de junho, queremos apresentar aos estimados leitores uma pequena carta que o bem-aventurado pai São Francisco escreveu para Santo Antônio. O assunto abordado, como será visto mais adiante, se refere à questão dos estudos teológicos para os frades da Ordem dos Menores (franciscanos).

 


 
Antes de apresentar a carta, é interessante situar um pouco a presença de Santo Antonio na Ordem Franciscana. Ainda recente na Ordem, ele esteve presente no Capítulo Geral de Assis, em 1221, e foi nesta ocasião que ele viu São Francisco pela primeira vez. Tendo entrado na Ordem provavelmente no ano anterior, ele estava vindo do Marrocos (norte da África) onde, por motivos de doença, não tinha conseguido pregar o Evangelho ao povo daquela região como era o seu desejo. No seu retorno a Portugal, a sua embarcação foi parar na Sicília (sul da Itália) por causa de uma forte tempestade. Ali, após sua recuperação, tomou o rumo de Assis para onde estavam se dirigindo os frades convocados para o Capítulo Geral.

 


 
Ao término do Capítulo Geral, atendendo ao convite de um ministro provincial, Santo Antônio foi morar no norte da Itália. Nesta época ele ainda não tinha sido reconhecido pelo seu profundo conhecimento da Teologia e da Sagrada Escritura em particular, adquirido no tempo de sua formação de cônego agostiniano. Descoberto não muito tempo depois pelos seus irmãos de hábito como ilustre pregador, ele começou a pregar o Evangelho como missionário itinerante, permanecendo neste serviço até a sua morte em 1231, com apenas 36 anos de idade.

 
Santo Antônio pregando aos peixes.

Com o acelerado crescimento da Ordem Franciscana, era cada vez mais urgente e necessária uma melhor preparação dos frades, especialmente daqueles que se destinavam à pregação do Evangelho. Santo Antonio, portanto, foi encarregado de ensinar Teologia aos seus confrades. Certamente é neste contexto que devemos situar a famosa carta que o seráfico pai escreveu para Santo Antonio:



 

Eu, Frei Francisco,
desejo saúde a Frei Antonio, meu bispo.
Apraz-me que ensines a sagrada Teologia aos irmãos,
 contanto que, nesse estudo,
não extingas o espírito de oração e devoção,
como está escrito na Regra.
 

 


 
 
Nós temos conhecimento desta pequenina carta graças aos vários pergaminhos medievais que trazem o registro deste precioso documento e também às antigas biografias de Santo Antonio que nos transmitiram a referida carta.
 

 


 
 
Em que momento da vida teria São Francisco enviado este documento? Os estudiosos costumam defender que esta pequenina carta deve ter sido escrita depois de 1223 porque veem nela uma referência à Regra Bulada aprovada naquele ano. Eles também defendem que esta carta não deve ser posterior a 1225 porque por esta época Santo Antonio tinha ido morar em terras francesas, voltando à Itália somente depois da morte de São Francisco. Portanto, seria bem provável que o pai seráfico tivesse dado esse escrito a Santo Antonio antes de sua partida para a França.
 

 
A Virgem com São Domingos e Santo Antônio.

 
Considerando esta carta, podemos afirmar que São Francisco não era contra os estudos da Teologia, pelo contrário, ele defendeu uma harmonia entre a vida intelectual e a vida espiritual. O ensinamento encontrado nesta carta está em perfeita sintonia com o pensamento do santo encontrado em outros escritos. Observemos o que ele nos ensina, por exemplo, numa de suas Admoestações:
 

 



 
“Diz o Apóstolo: A letra mata, o espírito, porém, vivifica (2Cor 3,6). São mortos pela letra aqueles que somente desejam conhecer as palavras para serem considerados mais sábios entre os outros e poderem adquirir grandes riquezas, para dá-las aos parentes e amigos. São também mortos pela letra aqueles religiosos que não querem seguir o espírito da divina escritura, mas apenas desejam conhecer as palavras e interpretá-las aos outros” (Admoestações 7, 1-3).
 

 


 
Queiramos nós também aprender com o Pobrezinho de Assis a estudar a Sagrada Teologia sem jamais perder o espírito da oração e devoção. Portanto, cresçamos no conhecimento das coisas referentes a Deus para amá-lo ainda mais! E amando-o, desejemos conhecê-lo mais e mais.

 
Paz e Bem

 

 

Frei Salvio Romero, eremita capuchinho.

 

 

 

 

Um comentário:

  1. Quanta sabedoria e quanto zelo de São Francisco para com os seus irmãos, a preocupação em não se extinguir o espírito e devoção.

    Paz e Bem!

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