Carta para
Santo Antonio
Neste
mês de junho, queremos apresentar aos estimados leitores uma pequena carta que o
bem-aventurado pai São Francisco escreveu para Santo Antônio. O assunto
abordado, como será visto mais adiante, se refere à questão dos estudos
teológicos para os frades da Ordem dos Menores (franciscanos).
Antes
de apresentar a carta, é interessante situar um pouco a presença de Santo
Antonio na Ordem Franciscana. Ainda recente na Ordem, ele esteve presente no
Capítulo Geral de Assis, em 1221, e foi nesta ocasião que ele viu São Francisco
pela primeira vez. Tendo entrado na Ordem provavelmente no ano anterior, ele estava
vindo do Marrocos (norte da África) onde, por motivos de doença, não tinha
conseguido pregar o Evangelho ao povo daquela região como era o seu desejo. No
seu retorno a Portugal, a sua embarcação foi parar na Sicília (sul da Itália)
por causa de uma forte tempestade. Ali, após sua recuperação, tomou o rumo de
Assis para onde estavam se dirigindo os frades convocados para o Capítulo Geral.
Ao
término do Capítulo Geral, atendendo ao convite de um ministro provincial, Santo
Antônio foi morar no norte da Itália. Nesta época ele ainda não tinha sido
reconhecido pelo seu profundo conhecimento da Teologia e da Sagrada Escritura
em particular, adquirido no tempo de sua formação de cônego agostiniano.
Descoberto não muito tempo depois pelos seus irmãos de hábito como ilustre
pregador, ele começou a pregar o Evangelho como missionário itinerante,
permanecendo neste serviço até a sua morte em 1231, com apenas 36 anos de
idade.
Com o acelerado crescimento
da Ordem Franciscana, era cada vez mais urgente e necessária uma melhor
preparação dos frades, especialmente daqueles que se destinavam à pregação do
Evangelho. Santo Antonio, portanto, foi encarregado de ensinar Teologia aos
seus confrades. Certamente é neste contexto que devemos situar a famosa carta
que o seráfico pai escreveu para Santo Antonio:
“Eu, Frei Francisco,
desejo saúde a Frei Antonio, meu bispo.
Apraz-me que ensines a sagrada Teologia aos irmãos,
contanto que, nesse
estudo,
não extingas o espírito de oração e devoção,
como está escrito na Regra.”
Nós temos conhecimento
desta pequenina carta graças aos vários pergaminhos medievais que trazem o
registro deste precioso documento e também às antigas biografias de Santo Antonio que nos transmitiram a referida carta.
Em que momento da vida teria São Francisco enviado este documento?
Os estudiosos costumam defender que esta pequenina carta deve ter sido escrita depois
de 1223 porque veem nela uma referência à Regra Bulada aprovada naquele ano. Eles
também defendem que esta carta não deve ser posterior a 1225 porque por esta
época Santo Antonio tinha ido morar em terras francesas, voltando à Itália somente
depois da morte de São Francisco. Portanto, seria bem provável que o pai
seráfico tivesse dado esse escrito a Santo Antonio antes de sua partida para a
França.
Considerando esta carta, podemos afirmar que
São Francisco não era contra os estudos da Teologia, pelo contrário, ele defendeu
uma harmonia entre a vida intelectual e a vida espiritual. O ensinamento encontrado
nesta carta está em perfeita sintonia com o pensamento do santo encontrado em outros
escritos. Observemos o que ele nos ensina, por exemplo, numa de suas
Admoestações:
“Diz o Apóstolo: A letra
mata, o espírito, porém, vivifica (2Cor
3,6). São mortos pela letra aqueles que somente desejam conhecer as
palavras para serem considerados mais sábios entre os outros e poderem adquirir
grandes riquezas, para dá-las aos parentes e amigos. São também mortos pela
letra aqueles religiosos que não querem seguir o espírito da divina escritura,
mas apenas desejam conhecer as palavras e interpretá-las aos outros” (Admoestações 7, 1-3).
Queiramos nós também aprender com o Pobrezinho
de Assis a estudar a Sagrada Teologia sem jamais perder o espírito da oração e
devoção. Portanto, cresçamos no conhecimento das coisas referentes a Deus para amá-lo
ainda mais! E amando-o, desejemos conhecê-lo mais e mais.
Paz e Bem
Frei Salvio
Romero, eremita capuchinho.
Quanta sabedoria e quanto zelo de São Francisco para com os seus irmãos, a preocupação em não se extinguir o espírito e devoção.
ResponderExcluirPaz e Bem!