sexta-feira, 10 de maio de 2013


Conformidade de São Francisco com Jesus
 
 

Podemos afirmar que São Francisco foi o santo que mais se assemelhou a Jesus. De fato, era tão grande o amor do seráfico pai pelo Cristo e seu Evangelho que ele procurou em tudo assemelhar-se ao Mestre, desde as pequenas coisas até às mais exigentes, e por esta mesma razão foi aclamado como o “Alter Christus”, isto é, o “Outro Cristo”.
 
 

Conformar-se a Cristo não é simplesmente uma imitação superficial, ela é antes de tudo uma ação do Espírito Santo no coração de quem se deixa modelar por este Sopro Criador. Esta conformidade a Cristo corresponde àquela vocação mais profunda da criatura humana que atinge sua plena maturidade quando chega a afirmar com o Apóstolo: “Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Certamente é deste mistério que fala o Apóstolo Paulo quando se refere àqueles que Deus “predestinou a serem conformes à imagem do seu Filho, para que este seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8,29).
 
 
 
 
 
 
 

 São Francisco viveu num período da história cristã no qual ardia um forte desejo de renovação espiritual e de retorno à simplicidade do Evangelho. Para Tomás de Celano o santo de Assis encarnou todos esses anseios que estavam no coração de muitos: “Nos últimos tempos, o novo evangelista, como um dos rios do paraíso, difundiu em todo o orbe da terra com piedosa irrigação as águas correntes do Evangelho e pregou com obras o caminho do Filho de Deus e a doutrina da verdade” (1Celano 89,4).
 
 
 
 



Desde os primeiros tempos, os biógrafos do santo perceberam claramente esta singular conformidade com o Cristo. Tomás de Celano recorda qual era o principal desejo do santo: “A mais sublime vontade, o principal desejo e supremo propósito dele era observar em tudo e por tudo o santo Evangelho, seguir perfeitamente a doutrina e imitar e seguir os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo com toda a vigilância, com todo o empenho, com todo o desejo da mente e com todo fervor do coração” (1Celano 84,1).
 
 
 
 
 



         Este mesmo biógrafo nos descreve a visão que um frade teve após a morte de São Francisco, e que ilustra muito bem esta conformidade à qual estamos nos referindo: “Apareceu o glorioso pai, vestido de dalmática de cor púrpura, a quem seguia incontável multidão de homens. Destacando-se muitos da multidão, disseram ao irmão: ‘Ó irmão, por acaso não é este o Cristo?’ E ele dizia: ‘É ele mesmo’. E outros perguntavam por sua vez, dizendo: ‘Por acaso não é este São Francisco?’ O irmão respondia igualmente que era. Na verdade, parecia ao irmão e à multidão de todos que o acompanhavam que a pessoa de Cristo e do bem-aventurado Francisco era uma só. Isto não é de modo algum considerado temerário pelos que compreendem sabiamente, pois quem se une a Deus se torna um espírito com ele, e o próprio Deus há ser tudo em todos” (2Celano 219,25).
 
 
 
 



O tema da conformidade de São Francisco com o Cristo, abordado magistralmente por São Boaventura, ultrapassou os séculos e permanece sempre atual. Numa de suas encíclicas, escreve o papa Pio XI: “Parece que se pode afirmar não haver nunca existido alguém que tivesse brilhado de maneira mais viva e mais semelhante à imagem de Jesus Cristo e à forma evangélica de vida do que São Francisco” (Encíclica Rite expiatis, 03 de abril de 1926). Na nova Regra da Ordem Franciscana Secular, aprovada pelo papa Paulo VI, em 1978, a conformidade com o Cristo é apresentada como elemento fundamental de espiritualidade: “Conformai vosso modo de pensar e de agir a Cristo, mediante uma radical mudança interior que o próprio Evangelho designa com o nome de conversão” (Regra da OFS 2,7).
 
 
 
 



Conformar-se a Cristo, portanto, é o chamado fundamental dirigido a cada um de nós. Não há verdadeira vida cristã sem essa identificação profunda do fiel com o Cristo Jesus. Deixemo-nos, então, conduzir pelo Espírito divino para que ele opere em nós esta sublime conformidade.


 
 
 
 

 Paz e Bem
 

 
 
 
Frei Salvio Romero, eremita capuchinho.

 

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