Conformidade de São Francisco com Jesus
Podemos afirmar que São
Francisco foi o santo que mais se assemelhou a Jesus. De fato, era tão grande o
amor do seráfico pai pelo Cristo e seu Evangelho que ele procurou em tudo assemelhar-se
ao Mestre, desde as pequenas coisas até às mais exigentes, e por esta mesma
razão foi aclamado como o “Alter Christus”, isto é, o “Outro Cristo”.
Conformar-se a Cristo não é
simplesmente uma imitação superficial, ela é antes de tudo uma ação do Espírito
Santo no coração de quem se deixa modelar por este Sopro Criador. Esta
conformidade a Cristo corresponde àquela vocação mais profunda da criatura
humana que atinge sua plena maturidade quando chega a afirmar com o Apóstolo:
“Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20). Certamente é deste mistério que fala o Apóstolo Paulo quando
se refere àqueles que Deus “predestinou a serem conformes à imagem do seu
Filho, para que este seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm 8,29).
São Francisco
viveu num período da história cristã no qual ardia um forte desejo de renovação
espiritual e de retorno à simplicidade do Evangelho. Para Tomás de Celano o
santo de Assis encarnou todos esses anseios que estavam no coração de muitos:
“Nos últimos tempos, o novo evangelista, como um dos rios do paraíso, difundiu
em todo o orbe da terra com piedosa irrigação as águas correntes do Evangelho e
pregou com obras o caminho do Filho de Deus e a doutrina da verdade” (1Celano 89,4).
Desde
os primeiros tempos, os biógrafos do santo perceberam claramente esta singular conformidade
com o Cristo. Tomás de Celano recorda qual era o principal desejo do santo: “A
mais sublime vontade, o principal desejo e supremo propósito dele era observar
em tudo e por tudo o santo Evangelho, seguir perfeitamente a doutrina e imitar
e seguir os passos de Nosso Senhor Jesus Cristo com toda a vigilância, com todo
o empenho, com todo o desejo da mente e com todo fervor do coração” (1Celano 84,1).
Este mesmo biógrafo nos descreve a visão que um frade teve após a
morte de São Francisco, e que ilustra muito bem esta conformidade à qual
estamos nos referindo: “Apareceu o glorioso pai, vestido de dalmática de cor
púrpura, a quem seguia incontável multidão de homens. Destacando-se muitos da
multidão, disseram ao irmão: ‘Ó irmão, por acaso não é este o Cristo?’ E ele
dizia: ‘É ele mesmo’. E outros perguntavam por sua vez, dizendo: ‘Por acaso não
é este São Francisco?’ O irmão respondia igualmente que era. Na verdade, parecia
ao irmão e à multidão de todos que o acompanhavam que a pessoa de Cristo e do
bem-aventurado Francisco era uma só. Isto não é de modo algum considerado
temerário pelos que compreendem sabiamente, pois quem se une a Deus se torna um
espírito com ele, e o próprio Deus há ser tudo em todos” (2Celano 219,25).
O tema da conformidade de
São Francisco com o Cristo, abordado magistralmente por São Boaventura,
ultrapassou os séculos e permanece sempre atual. Numa de suas encíclicas, escreve
o papa Pio XI: “Parece que se pode afirmar não haver nunca existido alguém que
tivesse brilhado de maneira mais viva e mais semelhante à imagem de Jesus
Cristo e à forma evangélica de vida do que São Francisco” (Encíclica Rite expiatis, 03 de abril de 1926). Na nova Regra da
Ordem Franciscana Secular, aprovada pelo papa Paulo VI, em 1978, a conformidade
com o Cristo é apresentada como elemento fundamental de espiritualidade:
“Conformai vosso modo de pensar e de agir a Cristo, mediante uma radical
mudança interior que o próprio Evangelho designa com o nome de conversão” (Regra da OFS 2,7).
Conformar-se a Cristo,
portanto, é o chamado fundamental dirigido a cada um de nós. Não há verdadeira
vida cristã sem essa identificação profunda do fiel com o Cristo Jesus.
Deixemo-nos, então, conduzir pelo Espírito divino para que ele opere em nós esta
sublime conformidade.
Paz e Bem
Frei Salvio Romero, eremita capuchinho.
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