As Origens do Capítulo Geral
A Ordem de São Francisco sempre entendeu que a vida fraterna está no centro de sua espiritualidade. Fundamentado no Evangelho, onde Jesus diz que é pelo amor fraternal que serão conhecidos seus discípulos (cf. Jo 13,35), o seráfico pai tornou-se o irmão menor de todos os homens e mulheres, dos animais, das plantas e todas as demais criaturas, e quis que seus filhos espirituais, seguindo o seu exemplo, fossem neste mundo sinais de fraternidade e de paz.
Desde os primeiros tempos, São Francisco costumava reunir periodicamente todos os seus frades para exortá-los e animá-los no caminho do Senhor. Tais encontros fraternos eram chamados de “Capítulos,” dos quais participavam todos os frades.
A Legenda dos Três Companheiros nos informa que bem no começo da Ordem:
“Depois de obtido o predito lugar de Santa Maria da Porciúncula do mencionado abade, o bem-aventurado Francisco ordenou que aí se realizasse Capítulo duas vezes ao ano, a saber, em Pentecostes e na Dedicação de São Miguel. Em Pentecostes, reuniam-se todos os irmãos em Santa Maria e tratavam da maneira como melhor poderiam observar a Regra, constituíam os irmãos que pregassem ao povo pelas diversas províncias e distribuíssem os outros irmãos em suas províncias” (LTC 57).
Tomás de Celano nos conta que, quando havia apenas oito frades na Ordem, São Francisco logo os enviou de dois a dois para pregar o evangelho. Pouco tempo depois, tendo o santo pai desejado reencontrar seus companheiros, “sem nenhuma convocação humana, todos se reuniram ao mesmo tempo, dando graças a Deus. (...) Em seguida, relatam as coisas boas que o misericordioso Senhor lhes fizera e, se de algum modo tivessem sido negligentes e ingratos, pedem humildemente ao santo pai a correção e penitência” (1Celano 30).
Há um testemunho muito antigo que nos informa sobre esses costumeiros Capítulos dos frades de São Francisco:
“Uma vez por ano se reúnem em lugar determinado para juntos alegrarem-se no Senhor e para comerem juntos; e com o conselho de homens bons elaboram e promulgam suas instituições santas e confirmadas pelo papa. E depois disso, dispersam-se por todo o ano pela Lombardia, Toscana, Apúlia e Sicília” (Jacques de Vitry, Carta de Gênova, outubro de 1216).
Quando a Ordem cresceu bastante e se espalhou pelo mundo, tornou-se muito difícil reunir todos os irmãos num mesmo lugar e ao mesmo tempo. No Capítulo de 1217 foram criadas as primeiras províncias e, a partir desta data, cada província podia celebrar seus próprios capítulos (Capítulos Provinciais). Desde então, o Capítulo anual de Pentecostes, que passou a ser conhecido como o Capítulo Geral da Ordem, ficou reservado apenas aos Ministros Provinciais e a outros frades convidados.
A Regra não Bulada (ano de 1221) prescreve que “todos os ministros, que estão nas regiões ultramarinas e ultramontanas, venham ao Capítulo de Pentecostes junto à igreja de Santa Maria da Porciúncula uma vez em três anos, e os outros ministros, uma vez ao ano, a não ser que pelo ministro tiver sido estabelecido diferentemente” (RnB 18,2).
A Regra Bulada (ano de 1223) mantém o Capítulo de Pentecostes, acrescentando-lhe a autoridade de eleger o novo Ministro Geral da Ordem, por ocasião da sua renúncia ou por decisão dos ministros provinciais: “Afastando-se [o ministro geral] do cargo, faça-se a eleição do sucessor pelos ministros provinciais e custódios no Capítulo de Pentecostes, no qual os ministros provinciais estejam sempre obrigados a reunir-se, onde quer que for estabelecido pelo ministro geral; e isto uma vez em três anos ou em outro prazo maior ou menor, como for ordenado pelo referido ministro” (RB 8).
Um pouco mais tarde, a partir das primeiras Constituições da Ordem, elaboradas em 1239, fica determinado que o Capítulo Geral deve ser celebrado de três em três anos. Só bem mais tardiamente é que foi introduzido costume de realizar o Capítulo Geral de seis em seis anos, norma que ainda permanece em vigor na nossa Ordem.
Frei Salvio Romero, eremita capuchinho.
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