INTERIORIDADE
Vivemos
numa época em que se valoriza demasiadamente a exterioridade, a aparência, o
rótulo. É o mundo das marcas, das etiquetas e das grifes para o qual não
importa muito a realidade interior de cada ser. Neste contexto, a felicidade e
a realização humana passam a estar estreitamente ligadas às coisas exteriores
tais como a aparência física, os bens materiais ou o prestígio social.
O exterior
das coisas, entretanto, pode disfarçar perfeitamente o conteúdo interior. Um
rótulo bem bonito, uma embalagem bem feita e uma propaganda bem elaborada
chegam a nos convencer que determinado produto é maravilhoso quando, de fato,
não o é. De modo semelhante, na vida pessoal e interpessoal podemos cair em
tais enganos. Quem nunca se enganou com certas aparências ou miragens?
Quem permanece
somente no mundo das exterioridades vive num palco de ilusões. O “parecer” se
torna mais importante do que o “ser”, e a “imagem” mais do que o “eu
verdadeiro”. Para ser aceito em determinados meios sociais, procura-se manter a
todo custo as aparências. Para não perder o prestígio, prefere-se manter uma
falsa imagem de si mesmo.
Viver na
exterioridade é viver na superficialidade. Não vale a pena. O ser humano não
foi criado para viver assim. Quanto mais exterioridade, mais superficialidade. Que
adianta estar todo enfeitado por fora quando lá dentro mora alguém triste e
vazio? Que adianta ter prestígio e fama quando o interior não está em paz e
harmonia?
As
exterioridades não são capazes de dar uma resposta adequada às inquietações do
coração humano. Não somos apenas um corpo material. Somos muito mais do que
isso. Por esta razão, mesmo vivendo num mundo profundamente materialista, cresce
o número de pessoas que buscam orientação em grupos que primam pela
interioridade.
Um dos
traços mais bonitos da interioridade humana é a “espiritualidade”. O homem não
se conforma apenas com o conforto material ou a tranquilidade emocional. Ele
sente que foi criado para algo maior. De fato, há no coração humano uma sede
que não encontra saciedade a não ser em Deus.
Como podemos
cuidar de nossa interioridade? Um dos caminhos mais simples é o da meditação. O
ideal é que ela se torne um hábito cotidiano (duas vezes por dia). Basta recolher-se
num lugar tranquilo e, em silêncio e quietude, ficar na presença de Deus.
Durante vinte a trinta minutos, o meditante permanece repetindo o santo Nome de
Jesus, com toda a atenção voltada para ele.
Quando
meditamos, saímos da zona dos pensamentos, das reflexões, das análises, dos
desejos, das emoções e das expectativas. Queremos, na verdade, sair das
estreitezas do eu superficial e deixar que o Pai do céu cuide das camadas mais
profundas do nosso ser. Os efeitos da meditação serão percebidos na vida
cotidiana.
A meditação nos ajuda a enxergar melhor a nossa própria
interioridade. Contemplaremos com alegria a beleza que habita o nosso ser. Perceberemos
com maior nitidez aquilo que há de sombrio em nós, e que precisa ser acolhido, pacificado
e integrado. Mas, acima de tudo, tomaremos consciência de que bem dentro de nós
mora o Espírito de Deus.
A meditação também nos ajuda a valorizar e a
respeitar a interioridade de cada pessoa. Não julgaremos mais pelas aparências.
Não classificaremos mais pelas exterioridades. As individualidades não serão
motivos para contendas ou conflitos, pelo contrário, elas serão admiradas e
respeitadas. Cada pessoa será estimada justamente por ser única. Na convivência
fraterna a maior aventura será conhecer o outro e deixar-se conhecer por ele. A
meditação se torna, portanto, fonte de comunhão entre as pessoas.
Ao cuidar
da própria interioridade, o meditante não despreza aquilo que lhe é exterior. A
meditação não aprisiona o praticante em si mesmo. Ela o conduz às profundezas
do seu ser, mas o devolve mais aberto para Deus e para os seus irmãos. Desta
forma, interioridade e exterioridade estarão em harmonia, e já não destoarão
uma da outra. Serão como faces de uma mesma moeda.
Paz e bem
Frei
Salvio Romero, eremita capuchinho.
Um texto muito rico, frei Salvio, que encerra verdades, e que é ao mesmo tempo um convite, um chamado, para tantos que estão à deriva na vida, sem norte... A meitação, de fato, nos traz paz interior e nos dá uma direção, a de Deus.
ResponderExcluirPaz e bem!
Socorro Melo
Belíssimo texto, Muito rico em conhecimento e esclarecimento espiritual e no âmbito meditativo.
ResponderExcluirParabéns Frei Sálvio. Deus lhe conceda sempre este servo abençoado.
Assim penso, assim vivo.
ResponderExcluirMesmo na correria diária que nos é imposta,paro para meditar, pois vejo como uma forma de me situar dentro de meus erros e acertos, jogando fora o que não serve e simplificando a vida, principalmente de uma forma contemplativa sobre o todo da criação.
Carlos D. Lopes _ OFS.