O Senhor me deu irmãos
Quando São Francisco iniciou sua
vida de penitente (conversão), não havia ainda em seu coração a intenção de
fundar uma Ordem de frades. Ele não teve inicialmente a preocupação de
encontrar seguidores. A chegada dos primeiros companheiros foi, de fato, um
presente de Deus e uma confirmação daquilo que ele estava buscando. Por isso,
quando ele escreveu o seu Testamento, já no final de sua vida, ele se recorda
deste momento singular:
“Depois
que o Senhor me deu irmãos, ninguém me mostrou o que deveria fazer, mas o
Altíssimo mesmo me revelou que eu deveria viver segundo a forma do santo
Evangelho” (Testamento 14).
Podemos
dizer então que foi com a chegada dos dois primeiros companheiros do seráfico
pai, o Frei Bernardo de Quintavalle e o Frei Pedro Cattani, que o movimento
franciscano nasceu. Enquanto esteve sozinho, São Francisco não teve total
clareza do modo de vida que deveria seguir. Foi na fraternidade que ele recebeu
de Deus a “revelação” de sua forma de vida.
As fontes franciscanas, cada qual
a seu modo, relatam para nós como foi a chegada dos primeiros frades. Uma das
fontes mais antigas, chamada de Anônimo Perusino, fala de como São Francisco
com seus dois companheiros encontraram no Evangelho a forma de vida que Deus
tinha reservado para eles:
“Foram,
portanto, a uma igreja da mesma cidade e, entrando nela, ajoelhados
humildemente em oração, disseram: ‘Senhor Deus, Pai da glória, nós vos rogamos
que, por vossa misericórdia, nos mostreis o que o que devemos fazer’. Terminada
a oração, disseram ao sacerdote da mesma igreja que aí estava presente:
‘Senhor, mostra-nos o Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo’. E, quando o
sacerdote abriu o livro, porque eles não sabiam escolher, encontraram logo a
passagem onde estava escrito: Se queres
ser perfeito, vai e vende tudo o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro
nos céus (Mt 19,21).
Folheando de novo, encontraram: Quem quiser vir após mim (Mt 16,24), etc. E folheando novamente,
encontraram: Nada leveis pelo caminho (Lc
9,3), etc. Ao ouvirem isto, alegraram-se com regozijo muito grande e
disseram: ‘Eis o que desejávamos, eis o que procurávamos’. E disse o
bem-aventurado Francisco: Esta será a nossa Regra”. Em seguida, disse aos dois:
‘Ide e, da maneira como ouvistes, realizai o conselho do Senhor”. (Anônimo Perusino 10-11).
São Francisco nem podia imaginar a
multidão de irmãos e irmãs que iria segui-lo. Desde o início ele sempre teve a
consciência muito clara sobre o valor da vida fraterna. Quando lemos a Regra
que ele escreveu para seus frades ou qualquer um outro escrito seu, percebemos
de imediato a sua aguçada sensibilidade fraterna. Nenhuma outra Regra para
monges ou religiosos está tão enriquecida de amor fraternal, de zelo pelo outro,
de cuidados maternais como a de São Francisco de Assis. Segundo grandes
estudiosos, o modo como ele entendeu e viveu a fraternidade é o coração de sua
espiritualidade. A fraternidade seria o elemento fundamental para a vivência do
carisma franciscano, chegando a ser maior mesmo do que a vida “sem nada de
próprio”.
Num mundo onde prevalece um
individualismo muito forte, onde os laços fraternos se desfazem com muita
facilidade, a mensagem do Pobrezinho de Assis se torna cada vez mais necessária
e urgente . Certamente aquele que se fez irmão de todos
tem muito a nos ensinar.
Frei Salvio Romero, eremita capuchinho.
E penso que, esta característica da espiritualidade franciscana, é o que mais encantou e continua encantando os seguidores de Francisco. No fundo, todos nós almejamos viver fraternalmente, pois a fraternidade traz consigo a segurança, a alegria, e a paz tão desejada.
ResponderExcluirPaz e Bem!
Socorro Melo