NATAL DO SENHOR:
O ALTÍSSIMO SE FEZ PEQUENO!
A família franciscana cultiva, como herança do seráfico pai, uma sublime admiração pelo Mistério do Nascimento de Jesus. São Francisco costumava dizer que o Natal era a “Festa das festas”, e para celebrá-lo dignamente ele se preparava a cada ano através de uma quaresma penitencial. No natal de 1223, três anos antes de sua morte, ele realizou algo extraordinário que passou a ser um patrimônio espiritual de sua Ordem: com seus frades e alguns aldeões ele realizou a encenação do presépio no eremitério de Gréccio, porque queria contemplar com seus próprios olhos o Menino na manjedoura.
O que mais atraía São Francisco na festa do Natal era o modo de como o Deus Altíssimo tinha vindo até nós: o Maior tinha se feito o Menor para nossa salvação! O Criador tinha assumido a condição de criatura! Só um amor eterno e divinal era capaz de explicar tal descida. São Paulo, escrevendo aos filipenses, afirma que o Filho de Deus “não se apegou ciosamente a ser igual em natureza a Deus Pai. Porém esvaziou-se de sua glória e assumiu a condição de um escravo, fazendo-se aos homens semelhante” (Fl 2,6-7). Em outra passagem o mesmo autor sagrado nos diz a respeito de Jesus: “Sendo rico, ele se fez pobre, a fim de nos enriquecer com sua pobreza” (2Cor 8,9). Este rebaixamento voluntário do Filho de Deus é a chave para uma compreensão mais profunda da espiritualidade de São Francisco.
Na festa do Natal se manifesta claramente para nós o despojamento do Cristo que veio em pobreza e humildade para nos redimir do pecado e nos dar a Vida Eterna: “Admirável humildade, estupenda pobreza! O Rei dos Anjos repousa numa manjedoura” (IV Carta de Santa Clara a Santa Inês de Praga). São Francisco, a seu modo, escreve assim: “Ele, sendo rico acima de todas as coisas, quis neste mundo, com a beatíssima Virgem, sua Mãe, escolher a pobreza” (II Carta aos fiéis 5).
Quando admiramos as lapinhas em nossas igrejas, talvez o que mais nos encanta é a beleza da gruta, ou a estrela que ilumina o Menino, ou ainda a alegria dos pastores. O olhar sensível de São Francisco se voltava cheio de comoção para a pobreza e a humildade de Jesus, capaz de se fazer tão pequeno por causa de nós. Ora, se Deus quis vir até nós escolhendo a pobreza e a humildade, não seria este um caminho especial para irmos até ele? Certa vez alguém perguntou ao pai Francisco qual seria a virtude que era capaz de nos fazer mais amigos do Cristo, e a resposta foi: “Sabei, filhos, que a pobreza é o caminho especial da salvação e que o múltiplo fruto dela só é bem conhecido por poucos” (2Celano 200,8).
Ao recordar-se da pobreza do Menino de Belém, o bem-aventurado pai Francisco sempre se lembrava também da pobreza da Virgem Mãe: “Recordava, não sem lágrimas, de quanta penúria a Virgem pobrezinha fora circundada naquele dia” (2Celano 200,3). Tomás de Celano também nos informa que São Francisco tinha maior apreço pela pobreza porque “ela era uma virtude régia que refulgira de modo tão eminente no Rei e na Rainha” (2Celano 200,6).
Um outro aspecto relacionado com a vida de pobreza do Menino e de sua Mãe foi cantado por São Francisco no último salmo do Ofício da Paixão, composto por ele mesmo para o tempo do Natal: “Um Menino santíssimo e dileto nos foi dado, e nasceu por nós no caminho e foi posto no presépio, porque não tinha lugar na pousada” (Ofício da Paixão XV,7). Com a expressão “nasceu por nós no caminho”, São Francisco queria ressaltar a dura condição que o Cristo assumiu ao se encarnar: ele já nasceu peregrino e itinerante, longe de sua casa.
Portanto, alegremo-nos por ocasião da grandiosa festa que se aproxima. Como desejava o pai Francisco, haja neste santo dia muita fartura e imensa generosidade entre todos; e que até mesmo os animais participem deste nosso júbilo. Que venha a paz e fuja o ódio, que venha o Bem e se aniquile a maldade.
Se você deseja conhecer mais sobre São Francisco e seu amor pelo Natal do Senhor procure neste blog o texto do mês de dezembro do ano de 2010.
Feliz Natal!
Frei Salvio Romero, eremita capuchinho.
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