terça-feira, 7 de abril de 2015

AS DISTRAÇÕES


Durante a meditação, todos nós desejamos nos concentrar somente no santo Nome de Jesus. Porém, passados alguns instantes de silêncio, percebemos que nossa mente é mais inquieta do que tínhamos pensado. Variados pensamentos e imaginações começam a surgir, afastando-nos do caminho iniciado.

A mente humana foi comparada por um sábio hindu do século IX a uma árvore cheia de macacos que pulam de galho em galho, fazendo uma tremenda confusão de ruídos e movimentos. De fato, sabemos por experiência própria que nossa mente é assim mesmo: inquieta e barulhenta. O meditante vai precisar de muita paciência e tolerância para lidar com esta realidade ao longo de sua vida.

Quando praticamos a oração discursiva (oração com palavras, pensamentos, imaginações ou reflexões), nossa mente fica de certa forma ocupada, e por isso ela não nos incomoda tanto com suas macaquices. Parece estar tranquila e sossegada. Porém, mal começamos a meditar, nossa mente reage violentamente, tornando difícil a nossa concentração.

Não temos como evitar as distrações mentais. Elas são nossas companheiras inseparáveis no caminho da meditação. Certamente os iniciantes sofrem de maneira mais forte a ação delas, porém não temos como afirmar que um dia nos livraremos totalmente delas. O que nos resta a fazer é aprender a conviver com as distrações, considerando-as não como inimigas, mas como oportunidades de treinar a nossa mente, tornando-a mais atenta e concentrada.

Os santos também sentiram grandes dificuldades para aquietar a mente durante a oração. O pai São Francisco, certa vez, destruiu um vaso que fizera porque roubou a sua atenção durante o Ofício Divino (cf. 2Celano 97). Santa Tereza de Ávila comparava as distrações a uma louca que corre sem parar em nossa casa, fazendo bastante barulho.

O que fazer com as distrações? O segredo está em não dar importância a elas. Quanto mais valorizá-las, mais fortes ficarão. Diante das repetidas distrações, conservemos a paz e retornemos sempre ao Santo Nome. Este é um combate no qual se luta com o escudo da paciência e as armas da perseverança e da prática cotidiana.

Os variados pensamentos e imaginações que vão surgindo durante a meditação são parecidos com paisagens que passam rapidamente pela direita e pela esquerda de quem conduz um automóvel por uma longa estrada. Com o olhar voltado para o horizonte, o condutor não se prende àquilo que passa ao seu lado. De forma semelhante, devemos voltar toda a nossa atenção para o santo Nome de Jesus, considerando sem nenhuma importância qualquer outra coisa que possa surgir no caminho.

Durante a meditação não só pensamentos e imaginações afloram em nós, mas também emoções e sentimentos de toda espécie. Mesmo quando surgem pensamentos ou sentimentos agradáveis e santos durante a meditação, nossa atenção não deve ser desviada do Santo Nome. Tudo aquilo que nos tira dele é considerado distração e, portanto, não deve roubar a nossa atenção.

Não devemos nos espantar do efeito contrário, quando queremos nos concentrar a todo custo. Não se alcança bons níveis de concentração com força e violência, mas com uma atenção amorosa e serena. É preciso ter paciência consigo mesmo, perseverar na prática diária e aguardar tempos melhores.  Tudo vai se ajustando. Nossa mente vai ficando mais tranquila e mais focada no Santo Nome de Jesus.

Não julgue como tempo perdido as distrações ocorridas durante a meditação. Mesmo que a concentração seja mínima, você vai experimentar benefícios na sua vida cotidiana. Portanto, não fique lamentando a sua falta de atenção. Saiba que o mais importante é não desistir. Meditar não é simplesmente uma questão de ficar concentrado, é antes de tudo um ato de amor e de fé.



Frei Salvio Romero, eremita capuchinho.