domingo, 26 de setembro de 2010

CÂNTICO DAS CRIATURAS



         Este é o mais belo cântico composto por São Francisco de Assis, escrito quase no final de sua vida quando, praticamente cego, não conseguia mais enxergar a beleza da criação. É considerado a primeira grande expressão poética da língua italiana, que naquela época estava ainda nascendo. De fato, esse canto não foi escrito em latim, mas em língua vulgar, ou seja, a língua falada pelo povo simples da região de Assis .



Mosteiro de
São Damião

         No mês de março de 1225, São Francisco visitou Santa Clara e suas irmãs em São Damião. Como a enfermidade dos seus olhos piorava cada vez mais, ele precisou ficar hospedado por três meses numa cela junto ao mosteiro, destinada ao capelão das irmãs. Por insistência de Frei Elias, São Francisco se submeteu a um tratamento dos olhos, mas de nada adiantou. Numa certa noite, atormentado pelas dores, ele ditou esse belo cântico como um grito de louvor ao Deus Altíssimo, que reveste toda a sua criação de beleza e bondade. 
        
        
         Na obra chamada Espelho de Perfeição (2EP 119), o autor nos informa que “quando a doença mais se agravava, ele começava a cantar os louvores do Senhor pelas criaturas, que ele tinha composto, e depois mandava que seus companheiros os cantassem, para que, em consideração aos louvores do Senhor, ele esquecesse a dureza de seus sofrimentos e enfermidades.
     

        
         E porque considerava e dizia que o sol é a mais bela de todas as criaturas e mais pode assemelhar-se a Deus, tanto que na Escritura o Senhor é chamado de Sol da Justiça (cf. Mt 4,2), por isso, ao dar um nome aos Louvores das criaturas do Senhor, que havia composto quando o Senhor lhe garantiu a posse de seu Reino, chamou-os de Cântico do Irmão Sol”.

 Frei salvio Romero,
Eremita Capuchinho.



Cântico do Irmão Sol ou Louvores das criaturas




"Altíssimo, onipotente, bom Senhor
Teus são o louvor, a glória e a honra e toda a bênção.
Só a ti, Altíssimo, são devidos
E homem algum é digno de mencionar-te.




Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas,
Especialmente o senhor irmão sol
Que clareia o dia e com sua luz nos alumia.
E ele é belo e radiante com grande esplendor,
De ti, Altíssimo, traz a imagem.




Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã lua e pelas estrelas
Que no céu formaste claras e preciosas e belas.




Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento,
E pelo ar e pelas nuvens e pelo sereno e por todo o tempo,
Pelo qual às tuas criaturas dás sustento.





Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água
Que é muito útil e humilde e preciosa e casta.




Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão fogo,
Pelo qual iluminas a noite.
E ele é belo e agradável e robusto e forte.





Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã, a mãe terra,
Que nos sustenta e governa,
E produz diversos frutos e coloridas flores e ervas.



Louvado sejas, meu Senhor, pelos que perdoam por teu amor,
E suportam enfermidade e tribulação.
Bem-aventurados aqueles que as suportarem em paz,
Porque por ti, Altíssimo, serão coroados.



Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã, a morte corporal,
Da qual nenhum homem vivente pode escapar.
Ai daqueles que morrerem em pecado mortal:
Bem-aventurados os que ela encontrar na tua santíssima vontade,
Porque a morte segunda não lhes fará mal.




Louvai e bendizei ao meu Senhor, e rendei-lhe graças,
E servi-o com grande humildade".

(São Francisco de Assis)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

SÃO FRANCISCO DE ASSIS:


SÃO FRANCISCO DE ASSIS:


Conversão e Vocação


Quando ficamos a contemplar a história da humanidade através dos séculos, vamos percebendo claramente que Deus nunca abandonou o seu povo, nem dele se esqueceu, especialmente nos momentos mais difíceis e tenebrosos. No Antigo Testamento, os profetas do Senhor eram enviados justamente em tempos de crise, quando a esperança do povo teimava em esmorecer. Não foi diferente nesses dois milênios de história cristã. Nos momentos em que a Igreja mais teve necessidade de grandes profetas, Deus despertou no meio do povo os seus santos e santas.  
Há oito séculos atrás, numa época em que a Igreja de Cristo precisava de um testemunho vivo do Evangelho, apareceu nas terras da Úmbria um “poverello” (pobrezinho) que, imitando a Cristo, atraiu grandes multidões para o rebanho do Senhor. Após tanto tempo, nós ainda permanecemos encantados com este “poverello”, que é uma das mais belas e ilustres figuras de santidade de todos os tempos: São Francisco de Assis. Não é sem razão, que ele foi reconhecido como o “Seráfico”, ou seja, aquele que alcançou um elevado nível de santidade, semelhante aos serafins que coroam a hierarquia das criaturas celestiais.




São Francisco nasceu na cidade de Assis, região da Úmbria (centro da Itália), no ano de 1181 ou 1182. No batismo, recebeu o nome de João, mas, ao regressar de uma viagem, o seu pai deu-lhe o nome de Francisco, provavelmente para homenagear a França.
A sua família tinha se enriquecido através da atividade comercial que, naqueles tempos, voltara a florescer vigorosamente na Europa, após longos séculos de uma economia mais agrária e rural. O seu pai, Pedro de Bernardone, comercializava tecidos e, certamente, desejava que seu filho seguisse semelhante caminho. Sua mãe era de origem francesa e se chamava Joana de Bernardone, conhecida também pelo nome de Senhora Pica.
O filho dos Bernardones cresceu em meio à riqueza e levava costumeiramente uma vida cheia de aventuras, de festas, de extravagâncias: era um esbanjador das posses de seu pai. Conservava consigo um grande sonho de se tornar um famoso cavaleiro, mas aguardava a oportunidade certa para partir em combate.
 Em 1202, por motivos políticos, os nobres de Assis se uniram aos nobres da vizinha cidade de Perúgia para guerrear contra os burgueses (comerciantes ricos) de Assis. Nesse combate entre nobres e burgueses pelo controle da cidade, Francisco toma parte defendendo os interesses de sua classe. O resultado não foi nada animador para o jovem cavaleiro. Contando com vinte anos de idade, ele tornou-se prisioneiro de guerra, permanecendo por um ano nessa condição na cidade de Perúgia. Na prisão, ele sofreu muito e ficou bastante doente. Após muitas negociações, Pedro Bernardone conseguiu a libertação de seu filho, trazendo-o de volta para casa.
Passado algum tempo, depois do restabelecimento de sua saúde, o jovem Francisco começou a demonstrar alguns sinais de que algo na sua vida estava mudando. O fracasso do seu sonho de se tornar cavaleiro e o sofrimento na prisão obrigaram aquele jovem a repensar a sua vida e a buscar o verdadeiro sentido dela.
È bem verdade que em 1204 ou 1205, Francisco, numa segunda tentativa, parte para o sul da Itália desejando concretizar o seu antigo sonho de se tornar um grande cavaleiro. Mas, no caminho, precisamente na cidade de Espoleto, Francisco teve uma visão que o convenceu a voltar para Assis e a se tornar cavaleiro não mais de um soberano qualquer, mas do “Grande e Sumo Rei”, Senhor do céu e da terra.
Desde então, aquele jovem que gostava de viver rodeado de outros jovens, aquele que freqüentava assiduamente as festas e os bailes de sua cidade, aquele que gostava de se exibir com sua suas roupas extravagantes e coloridas, agora buscava a solidão dos campos, a quietude das velhas igrejas abandonadas, o silêncio das grutas e cavernas para ficar a sós com Deus que o atraía cada vez mais para si.
Certa vez, ainda no ano de 1205, estando a contemplar o antigo ícone do Crucificado da pequena ermida de São Damião, aquele jovem escutou uma voz que dizia: “Francisco, vai e restaura a minha casa, que como vês, está toda destruída” (2Cel 10). Prontamente, o homem de Deus procurou obedecer fielmente aquele mandato divino. Porém, só mais tarde ele entenderia mais profundamente o sentido espiritual daquela missão que recebera do Crucificado. Um pouco depois, além da igreja de São Damião e de uma outra que não foi preservada, Francisco reconstruiu a pequenina igreja de Santa Maria dos Anjos, a Porciúncula.
O novo estilo de vida de Francisco deve ter causado estranheza entre os seus. Por isso, não tardaria acontecer graves conflitos com seu pai. De fato, em 1206, diante do bispo de Assis, Guido II, o jovem reconstrutor de igrejas rompeu definitivamente com seu pai, despojando-se até de suas vestes seculares, devolvendo-as a seu pai, e passando a viver solitariamente com roupas de eremita.
Nesse mesmo ano de 1206, encontramos Francisco servindo durante um certo tempo os leprosos da cidade de Gubbio. A experiência com os leprosos foi o elemento mais decisivo na sua conversão como ele mesmo descreve no seu Testamento espiritual. Se antes era para ele amargo olhar para os leprosos, dali por diante, ficar com eles era a doçura de sua alma.
Em 1208, estando Francisco na Porciúncula por ocasião da festa de São Matias, foi proclamado o Evangelho do envio dos discípulos de Jesus, no qual se diz que estes não devem levar pelas estradas nem sacolas, nem dinheiro, nem sandálias, etc. Nesse momento, o jovem Francisco sentiu na sua alma a confirmação divina de sua vocação. Era aquilo que ele buscava com tanto ardor. Imediatamente, para cumprir a ordem do Evangelho, ele troca suas vestes de eremita por uma túnica muito rude em forma de cruz. Descalço e cingido apenas com uma velha corda, ele torna-se, assim, um peregrino de Deus, um anunciador do Evangelho, um seguidor livre do Filho de Deus.
O exemplo de Francisco não passou despercebido aos olhos de seus contemporâneos. Não muito tempo depois, ainda no ano de 1208, começaram a vir até ele diversos amigos de antes para que os recebesse como companheiros de vocação. Assim, dentro de pouco tempo a nova família religiosa foi se multiplicando.
Em 1209, Francisco e mais onze companheiros foram a Roma com o intuito de receber do papa Inocêncio III a aprovação de sua fraternidade. De fato, o papa concedeu uma aprovação oral e os confirmou na vocação, reconhecendo que, dali por diante, eles pertenceriam à estrutura visível e jurídica da Santa Igreja. Estava, deste modo, nascida oficialmente a Ordem dos Frades Menores.


   
     

terça-feira, 7 de setembro de 2010

CRONOLOGIA DE SÃO FRANCISCO









1181 - 1182 - Nasce em Assis (Itália) o filho de Pedro Bernardone e Joana (conhecida também como Senhora Pica). No batismo recebeu da mãe o nome de João. Ao regressar de uma viagem, o pai deu-lhe o nome de Francisco. Seus pais são da classe da burguesia (comerciantes de tecido).



1194 - Nascimento de Clara, filha de Favarone e Hortolana (nobres de Assis).



1202 - Guerra entre os nobres de Assis aliados com a cidade vizinha de Perúgia e os burgueses de Assis. O jovem Francisco, com a idade de vinte anos, participa desta guerra visto que seu grande sonho era ser cavaleiro. Assis é vencida, e Francisco é feito prisioneiro. Após um ano de prisão, acometido por uma doença, Francisco é resgatado pelo pai.



1204 - 1205 - Numa segunda tentativa, Francisco parte para a guerra na Apúlia (sul da Itália). No caminho, na cidade de Espoleto, tem uma visão e decide voltar para Assis. É o início de sua conversão.



1205 - Francisco, em profunda oração, recebe a mensagem do crucifixo da igreja de São Damião: “Francisco, vai e restaura minha casa que, como vês, está toda destruída” (2Cel 10).



1206 - Francisco rompe com seu pai, despoja-se diante do bispo de Assis, Guido II, e depois, na cidade de Gubbio, presta serviços aos leprosos. De volta a Assis, veste um hábito de eremita e inicia a restauração da igreja de São Damião. Depois começa também a restauração da igreja de São Pedro e da Porciúncula.



1208 - No dia de São Matias (24 de fevereiro), Francisco ouve na Porciúncula o Evangelho do envio apostólico. Troca suas vestes de eremita por um hábito rude e torna-se um pregador itinerante. Pouco tempo depois recebe os primeiros companheiros: Frei Bernardo, Frei Pedro Cattani e Frei Egídio. Imediatamente saem a pregar e logo chegam novos companheiros.



1209 - Francisco e seus onze companheiros vão a Roma e recebem do papa Inocêncio III a aprovação oral da sua regra de vida. De volta a Assis, se estabelecem em Rivotorto, num tugúrio abandonado. No final deste ano ou no início do ano seguinte eles vão morar em Santa Maria dos Anjos (Porciúncula).



1210 - Iniciam-se os encontros e diálogos secretos entre Clara e Francisco: ele está com 28 anos e ela está com 16 anos.



1211 ou 1212 - Na noite de Domingos de Ramos, Clara foge da casa paterna e é acolhida por Francisco e seus frades na Porciúncula, onde ela se consagra ao Senhor. Antes de se instalar em São Damião, ela passa brevemente por dois mosteiros nas proximidades de Assis. Quinze dias após a fuga, Clara acolhe sua irmã Inês que também foge de casa para se consagrar ao Senhor.



1213 - O senhor Orlando Cattani, Conde de Chiusi, oferece a Francisco o Monte Alverne, para servir aos irmãos como eremitério.



1216 - Clara obtém do papa Inocêncio III o Privilégio da Pobreza e Francisco obtém do novo papa, HonórioIII, a indulgência da Porciúncula.



1217 - O Capítulo Geral da Porciúncula divide a Ordem em Províncias e os frades organizam as primeiras missões fora da Itália.



1219 - Francisco parte para o Oriente e chega a falar com o Sultão do Egito. Os frades que tinham ido para a África (Marrocos) sofrem o martírio. Motivado por este fato, Santo Antônio entra na Ordem Franciscana.



1220 - Francisco está na Terra Santa. A Ordem entra em um processo de crise e por isso Francisco retorna à Itália. Ele pede um cardeal protetor para a sua ordem e o papa nomeia para este fim o cardeal Hugolino. Francisco escolhe o Frei Pedro Cattani como o seu Vigário.



1221 - Morre o Frei Pedro Cattani. Frei Elias de Cortona é nomeado o novo Vigário de São Francisco. O papa Honório III aprova a Ordem Terceira de São Francisco. Morre São Domingos de Gusmão, grande amigo de São Francisco e fundador dos dominicanos.



1223 - Aos 29 de novembro, o papa Honório III aprova definitivamente a Regra de São Francisco (Regra Bulada). Na noite do Natal do Senhor, Francisco celebra em Gréccio o nascimento do Salvador diante de um presépio vivo.



1224 - Entre agosto e setembro, Francisco dirige-se ao Alverne com Frei Leão e Frei Rufino a fim de fazer uma quaresma de oração e jejum em honra de São Miguel. Na proximidade da festa da Exaltação da Santa Cruz, Francisco tem a visão do serafim alado e crucificado e, em seguida, surgem nele as sagradas chagas de Cristo.



1225 - A enfermidade dos olhos de Francisco piora muito. Ele faz vários tratamentos, mas nada adianta. Depois de uma noite de muito sofrimento, em São Damião, ele compõe o Cântico do Irmão Sol.



1226 - No final de agosto ou início de setembro, por causa de suas enfermidades, Francisco se hospeda por um tempo no palácio do bispo de Assis. Sentindo iminente a morte, Francisco pede para ser transportado para a Porciúncula. Na planície, abençoa a sua querida cidade. Nos últimos dias de sua vida, dita o seu Testamento. No dia 03 de outubro, à tarde, Francisco morreu cantando aos 44 anos de idade. No dia seguinte foi sepultado dentro da cidade de Assis, na igreja de São Jorge, mas antes o cortejo fúnebre passou por São Damião, para ser venerado por Clara e suas irmãs. Clara estava com 32 anos de idade.



1227 - Morre o papa Honório III e o cardeal Hugolino, protetor da Ordem de São Francisco, é escolhido para o pontificado recebendo o nome de Gregório IX. Reinaldo de Segni torna-se o novo cardeal protetor dos Frades Menores e das Damas Pobres (clarissas).



1228 - Gregório IX canoniza Francisco de Assis e o Frei Tomás de Celano escreve a primeira biografia do santo.



1230 - Transladação dos restos mortais de São Francisco para a basílica que estava sendo construída em sua honra.



1231 - Morrem Santo Antônio de Pádua e Santa Isabel da Hungria, padroeira da Terceira Ordem de São Francisco.



1240 - Pela oração de Santa Clara diante da Eucaristia, o mosteiro de São Damião é salvo das tropas de soldados sarracenos mercenários a serviço do imperador.



1241 - Assis é sitiada pelas tropas imperiais. Através das orações de Santa Clara e de suas irmãs a cidade é salva do ataque. Neste mesmo ano morre o papa Gregório IX, quase centenário.



1252 - Clara escreve sua Regra e obtém aprovação do cardeal protetor Reinaldo de Segni.



1253 - Dois dias antes de morrer, Clara obtém a aprovação pontifícia de sua Regra. No dia 11 de agosto ela morre em São Damião e é sepultada na igreja de São Jorge dentro da cidade de Assis. O papa Inocêncio IV com diversos cardeais estavam presentes nos funerais da santa.



1254 - O cardeal protetor da Ordem Franciscana (Reinaldo de Segni) é eleito papa com o nome de Alexandre IV.



1255 - Santa Clara é canonizada na cidade de Anagni pelo Papa Alexandre IV, provavelmente no dia 15 de agosto. É publicada sua Legenda, bem como a Bula de Canonização.



1257 - Mudança das irmãs do Mosteiro de São Damião para o protomosteiro, junto ao corpo de Clara.



1260 - O corpo de Santa Clara é transladado para a basílica construída em seu nome sobre a antiga igreja de São Jorge.


“Eu, Frei Francisco pequenino, quero seguir a vida e a pobreza de nosso Altíssimo Senhor Jesus Cristo e de sua Mãe santíssima e perseverar nela até o fim; e rogo-vos senhoras minhas, e dou-vos o conselho para que vivais sempre nesta santíssima vida e pobreza. E estai muito atentas para, de maneira alguma, nunca vos afastardes dela por doutrina ou conselho de alguém.” (Última vontade escrita para Santa Clara)